ResumoO artigo investiga as conexões existentes entre o jovem intelectual Sérgio Buarque de Holanda e a constelação de autores ligados à chamada "revolução conservadora" alemã da época da Repú-blica de Weimar. Propõe-se uma interpretação alternativa a respeito dos posicionamentos políticos do jovem historiador paulista, bem como dos temas do personalismo e da cordialidade em sua obra de estreia, por meio da aná-
Atribuem-se a Heráclito duas fórmulas memoráveis. A primeira, panta rhei, "tudo passa", faz parte do repertório básico de qualquer aluno de primeiro semestre nas Humanidades. Já a segunda é bem menos citada: "a guerra é o pai de todas as coisas". De fato, a ideia de que há algo não apenas de estranhamente sedutor, mas também de matricial na guerra, é confirmada à exaustão pela experiência histórica e mesmo por nossa sensibilidade estética. De Homero e do Mahabharata a Euclides da Cunha, da pintura de Otto Dix ao grande romance de Guimarães Rosa, a guerra aparece ora como epicentro narrativo, ora como pano de fundo. Tinha razão Ernst Jünger quando constatou que "a mania da destruição está profundamente enraizada na natureza humana" (Jünger, 2005, p. 48).Como quer que seja, uma das conquistas fundamentais da modernidade, pelo menos desde a Guerra dos trinta anos, foi a de tendencialmente mitigar o fascínio que, desde sempre, cerca esse fato social total. Daí que, em suas memórias como soldado na Primeira Guerra, o historiador britânico R. H. Tawney não tenha escondido sua repulsa ante a "sensação de desempenhar um papel inútil" no que qualificou de "jogo disputado por macacos e organizado por lunáticos" (apud Stern, 2004, p. 254).Em 1914, como se sabe, a aversão demonstrada por Tawney não resistiu à escalada das disputas entre as potências europeias, à agitação nacionalista e a uma visão demasiado ingênua quanto ao explosivo potencial da aliança firmada entre técnica e indústria bélica. Naquelas primeiras semanas, o entusias-
und Wirtschaftsgeschichte des Altertums. Schriften und Reden (1893-1908. Tübingen, Mohr siebeck, 2006. 975 páginas. Sérgio da Matanão existe uma sociologia da sociologia weberiana. Tão logo o sociólogo passa a devotar esforços à análise, à reconstrução e à interpretação da obra de Max Weber, mais ele se afasta de um enfoque propriamente "sociológico" (como o da sociologia do conhecimento, por exemplo). ao se autodefinir como uma ciência para a qual o caso singular não passa de um resíduo, ela se mantém desaparelhada para dar conta da obra daquele que é o mais famoso dos seus pais fundadores. De fato, qualquer que seja a disciplina de origem do intérprete, o que de mais relevante se tem publicado sobre Weber nas últimas décadas está norteado, fundamentalmente, por três enfoques: o hermenêutico, o filológico e o da história das ideias. em outras palavras, não há uma sociologia compreensiva da sociologia compreensiva. e por uma simples razão: ela não constitui um instrumental heurístico e teórico adequado para compreender a si própria. Como observou Mario rainer Lepsius, um dos organizadores-chefe da edição crítica das obras de Weber, "a sociologia, como ciência do presente, tem memória curta e está inclinada a encurtar temporalmente o contexto de explicação" (Lepsius, 2005, p. 38). ampliar o contexto de explicação para todo aquele que estiver interessado em se embrenhar no pensamento e nos escritos de Weber significa fazer história, e história das ideias.De que forma pode esta disciplina contribuir para uma adequada compreensão e explicação do sociological turn do "mito de heidelberg"? eis aí uma das questões mais controversas no âmbito dos Weber Studies. num dado momento de sua vida, Weber dá--nos a impressão de que poderia ter optado por virtualmente qualquer coisa. É de causar vertigem a diversidade de temas e campos de investigação com que ele se ocupou entre 1904 e 1909. a Ética protestante foi apenas uma das inúmeras aventuras intelectuais do professor aposentado de economia política. Façamos a conta: neste curto espaço de tempo, além da Ética, ele publica sobre a lógica das ciências culturais (da "objetividade" à crítica das teorias culturais energéticas), sobre a crise política na rússia czarista, sobre as origens da estrutura agrária alemã (texto apresentado na exposição universal de saint Louis), sobre as seitas protestantes norte-americanas e, ainda, sobre um tema tão indigesto como a "psicofísica do trabalho industrial". ao mesmo tempo, Weber escreve réplicas aos primeiros críti-cos de peso da Ética -os historiadores Karl Fischer e Felix rachfahl -e assume a direção de dois importantes empreendimentos editoriais: a revista Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik e, não muito tempo depois, o Grundriss der Sozialökono-mik. É legítimo supor que ele apenas ironizava a si mesmo quando observou, pouco antes de morrer, que "quase todas as ciências devem algo aos diletantes" (Weber, 1988, p. 14.) Como quer que seja, foi em algum momento deste quinquênio de produção diluviana que Weber se deixou seduz...
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