As características geoambientais do rio Amazonas têm sido descritas por diversos pesquisadores, enfatizando a apreciável extensão de sua bacia de drenagem, a influência da floresta, da erosão, da sazonalidade, do considerável índice pluviométrico, do transporte de material em suspensão e da notável descarga (vazão) lançada para o oceano Atlântico. Este estudo, realizado no âmbito do Programa Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE), em amostras de sedimentos coletadas em águas costeiras do oceano Atlântico sob influência do rio Amazonas, durante o 2° cruzeiro científico da Operação Norte II, a bordo do navio oceanográfico Anatares, procede à caracterização química e discute aspectos geoquímicos relevantes da matéria orgânica de sedimentos de fundo e em suspensão na foz do grande rio. Observou-se que as concentrações mais elevadas de material em suspensão (máxima em 2300 mg/L) encontram-se em pontos de coleta próximos à costa e tendem a zero a offshore. A variação do teor da matéria orgânica associada a esse material em suspensão é relativamente restrita (mínimo em 1,91% e máximo em 3,53%). A identificação da natureza química da matéria orgânica indica a ocorrência de material húmico, associado muito provavelmente à drenagem de solos amazônicos característicos, como os podzóis e os latossolos, material esse transportado pelo rio Amazonas até as águas costeiras. Na caracterização química do material húmico, identificaram-se grupos metileno (que estão diretamente relacionados com hidrocarbonetos alifáticos), grupos C=O (de carboxilato e de cetonas) e de bandas devidas a argilominerais associados. O teor de matéria orgânica mostrouse sempre abaixo de 3,6%, exibindo valores de razão C/N variando de 9,64 (material em suspensão) a 68,3 (em sedimentos de fundo), de acordo com a maior ou menor influência de compostos orgânicos nitrogenados ou de maior ou menor período de maturação desse material orgânico. Nas amostras apresentando razão C/N mais elevadas, deve-se esperar uma origem em que dominem produtos da decomposição de celulose ou que estejam associadas a um período de maturação menos recente. O teor de fosfato presente no sedimento, variando de 0,06% a 0,78% (expressos em mg.L-1 de P), sugere influências do ambiente marinho (talvez envolvendo contribuições de P biogênico), através da ressuspensão de sedimentos, fato comum em ambientes estuarinos.