"O terreiro é o mundo ficando mais bonito". Diz Mene Viana Cardoso, de 3 anos, do Ilê Axé Omi Laare Ìyá Sagbá, um terreiro de candomblé, em Santa Cruz da Serra, Duque de Caxias, na Baixada Fluminese. Os terreiros, entre eles, os terreiros de candomblé, preservaram e ressignificaram modos de vida trazidos do Continente Africano durante a escravização. Conhecimentos sofisticados que atravessaram o Atlântico e foram mantidos e reinventados nesses espaçostempo. Os Estudos com Crianças de Terreiros nascem de duas grandes negações, ou de dois grandes desprezos: o primeiro desprezo é herança hegemônica deixada pelo modo dominante com o qual a modernidade "via" os cotidianos, tidos como lugar de reprodução e saberes menores. O segundo grande desprezo é aquele que marca os estudos da infância nas Ciências Sociais negando a criança como sujeito de conhecimento e participação social, portanto silenciando-as. Em um caminho original, o Grupo de Pesquisa Kékeré (pequeno em yorubá) contraria essa dupla negação para inverter e afirmar que, justamente aquilo que é considerado menor (os cotidianos), e quem é considerado menor ainda (as crianças), são fundamentos vitais para compreender a sociedade em que vivemos, bem como desestabilizar suas lógicas coloniais profundas. A proposta desse artigo é apresentar algumas notas dos caminhos desses estudos. Palavras Chave: Criança. Infância. Pesquisa com os cotidoanos. Estudos Com Crianças de Terreiro
The text presents some results of the research about how children and teenagers learn yorubá, a live African language practiced in candomblé in Brazil. The study developed in a candomblé yard at Baixada Fluminense, in Rio de Janeiro, between April, 2012 and September, 2013. We share the same comprehension with Alves (2010), in his opinion, that the walls of schools are imaginary creations and we learn everything in or out of the schools, in other words, in an educating network. We understand that the candomblé yard is within this network through songs, foods, leaves, myths and artifacts. The yorubá to imbue for all this knowledge, as a language thread that lights, organizes and gives support to the communication of the community's members. The research show us too that cultures knowledge, including one of their languages, may suggest traces of African history teaching, and reduce the religious intolerance in schools.
Este ensaio tem o objetivo de propor um diálogo entre narrativas digitais e aprendizagens em terreiros de Candomblé por meio da apresentação e discussão de dois casos. O eixo da análise recai sobre as diversas redes educativas que se entrelaçam cotidianamente nos terreiros de Candomblé, ultrapassando os seus limites físicos e alcançando o ciberespaço, entendido como um espaço desterritorializante, sem controle centralizado e que existe em potência em um hipertexto mundial interativo, por meio de diversas narrativas digitais. Redes educativas nos formam com processos pedagógicos específicos e nelas nos modificamos, contribuindo para as mudanças que se processam em fluxo e cotidianamente. Os cotidianos representam um local de produção e recriação de conhecimentos e significações. As aprendizagens nos terreiros acontecem tradicionalmente de forma oral. Com o advento da internet e das novas tecnologias da informação e da comunicação, esses saberes podem se espalhar indefinidamente, constituindo novas redes educativas. Como essas narrativas digitais alteram e recriam os cotidianos nos terreiros? De que formas os adeptos do Candomblé atuam sobre essas narrativas, produzindo-as, discutindo-as e modificando-as? Essas são algumas questões que foram discutidas neste ensaio. Para tanto, foram mapeados rastros dessas narrativas digitais em ambos os casos apresentados com o dispositivo da observação participante de candomblecistas em páginas específicas no Facebook, bem como por meio de entrevistas online e presenciais. Os principais parceiros intelectuais são autores que pesquisam a cibercultura, as redes educativas e os cotidianos nos terreiros.Palavras-chave: Candomblé; narrativas digitais; redes ed
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.