Imagem e texto -uma relação tensaLemos um texto, olhamos uma imagem. De modos muito diversos ambos comunicam. Tanto as palavras e as frases que lemos em um texto, quanto as formas e as cores que vemos na imagem expressam algo sobre o mundo. A comparação entre imagem e texto é uma constante para aqueles que se dedicam à antropologia visual. Na verdade, esta é uma comparação antiqüíssima; desde Leonardo da Vinci, as diferentes formas de expressão artística, como a pintura e a poesia, são comparadas.O termo texto tem uma acepção clara -as palavras de um autor expressas em livro ou em qualquer outro escrito -e deriva do latim textum, entrelaçamento ou tecido. Certamente são muitos os tipos de texto: acadêmi-co, literário, poético, jornalístico, publicitário e assim por diante. No entanto, em todos se percebe a tessitura das palavras do autor, mesmo quando este não é nomeado. Tal não ocorre com a imagem. Como bem observa Mitchell (1986), as imagens também podem ser de vários tipos: gráficas (como as pinturas, as estátuas e os desenhos); óticas (como os reflexos no espelho e as projeções); perceptivas (como as aparências); mentais (como os sonhos, as memórias, as idéias); verbais (como as metáforas e as descrições). Vale notar que, de modo geral, textos remetem à autoria, ao passo que imagens são quase sempre remetidas ao referente que elas apresentam. Parece haver uma distância entre o texto e aquilo sobre o que ele fala; já as imagens estão sempre próximas do que apresentam. Barthes (1990:27) afirma que "segundo uma antiga etimologia, a palavra imagem deveria estar ligada à raiz de imitari".Há algo na imagem que a afasta da racionalidade que tanto tem marcado as nossas ciências sociais. Parece-me absolutamente procedente a hipótese de Olgária Matos quando supõe uma origem comum, no persa antigo, para imagem e magia. Definida como "instância intermediária entre o sensível
RESUMO: O objetivo do trabalho é analisar os funerais bororo como momentos de desfiguração e refiguração do mundo (Taussig, 1999). Entre os Bororo, a morte dá início a uma série de transformações que envolvem o morto, seu corpo, a alma, a escolha e investidura do representante do morto, assim como transformações nas relações sociais entre os vivos. Todas essas transformações, que são objeto de segredo público, são elaboradas ao longo dos rituais que fazem parte do ciclo funerário. O texto é acompanhado por uma seleção de fotos captadas por mim ao longo de trinta anos de pesquisa entre esses índios, de modo a ilustrar os funerais bororo como momentos de recriação do mundo, com base nas perspectivas teóricas elaboradas por Taussig (1999) e Overing (1989, 1990. PALAVRAS-CHAVE: funerais entre os Bororo, processos de desfiguração e refiguração, segredo público, fotografias dos rituais funerários dos Bororo.Boe nasceu para complicar. Nasceu põe nome, fura beiço dele se for homem. É a mesma coisa que faz quando ele morre. Morreu devia acabar tudo, mas começa tudo outra vez, porque tem cabacinha. Boe não quer acabar. (José Carlos)
Palavras-chave: antropologia visual, etnografia, fotografia, filme etnográfico Quero começar esse artigo pensando nos modos pelos quais nos comunicamos e estabelecemos relações a partir das quais trocamos algo. Comunicação é uma palavra que vem do latim: communicatio, ato de participar, de comunicar, de repartir, de distribuir, literalmente "tornar comum" -de communis, "público, geral, compartido por vários". Quem comunica divide alguma coisa com alguém, partilha. Tem a mesma origem a palavra comunhão, que implica uma participação mútua. São muitas as formas estabelecidas pelos humanos em termos de comunicação; a narrativa, de que fala Walter Benjamin (1996), é uma de suas formas mais antigas.1 Sylvia Caiuby Novaes é Professora Titular no Departamento de Antropologia na Universidade de São Paulo, foi coordenadora do LISA -Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (1991Antropologia ( -2014. É atualmente Coordenadora do GRAVI -Grupo de Antropologia Visual e Diretora do CEUMA -Centro Universitário Maria Antonia. A partir de 1997 coordenou três projetos temáticos financiados pela FAPESP, o terceiro ainda em vigên-cia, todos eles voltados para o uso da imagem -fixa e em movimento -na Antropologia. Apoio FAPESP, Projeto temático 09/52880-9. Wolde Gossa Tadesse -Christensen Fund. Contato: scaiuby@usp.br AVISO: Este ficheiro pdf contém elementos multimédia e deve ser baixado e aberto FORA DO NAVEGADOR, com a versão mais recente do Adobe Reader X (http://get.adobe.com/reader/). pag. 58 CADERNOS DE ARTE E ANTROPOLOGIATambém do latim, "notitia" é informação, conhecimento, e ainda o fato de ser conhecido, notoriedade. Está associada ao verbo gnoscere, "vir a saber, tomar conhecimento", por sua vez derivado do indo-europeu gno, "saber". Apesar de serem ambas formas de comunicação, narrativa e notícia chegam às pessoas a partir de processos muito distintos e este será um dos focos deste artigo.Meu objetivo é aqui desenvolver a hipótese de que a fotografia é fundamentalmente comunicação e seu uso numa perspectiva antropológica deve ser repensado a partir da natureza mesma da fotografia, de seu modo muito específico de estabelecer relações com as pessoas e que a afastam dos modos consagrados de um discurso tipicamente acadêmico em nossa disciplina. O que talvez explique, como procuro desenvolver adiante, porque o uso de imagens na Antropologia venha se concentrando nos filmes etnográficos, em detrimento das fotografias, quando se trata de apresentar resultados de pesquisa.Podemos retomar o que já se sabe sobre os diversos modos de conhecimento e sobre categorias de conhecimento em nossa disciplina. Ao repensar a antropologia visual, MacDougall (1997:286) compara a escrita antropológica e o uso de meios visuais em termos de suas implicações e perspectivas. Para ele os meios visuais envolvem o receptor em processos heurísticos e modos de criação de sentido muito diversos daquele implícito na leitura de um texto verbal. São também diversos os modos como textos verbais e meios visuais podem enfatizar determinados aspectos ou ...
À primeira vista pode parecer paradoxal querer entender o processo de constituição da identidade Bororo a partir dos ritos funerários, uma vez que, em certo sentido, este é o momento que caracteriza uma perda a perda de uma identidade física carregada de sentido. No entanto, exatamente por ser um momento em que a sociedade se vê desfalca . da de um de seus membros é que se pode, a meu ver, buscar nos ritos funerários os mecanismos sociais acionados para que a sociedade se recomponha. E neste sentido é possível encontrar neste momento social elementos que contribuem para a compreensão do processo de constitttição da identidade do homem Bororo.
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