A publicação de um relatório que contém diretrizes de boas práticas científicas pelo CNPq, em 2011, é considerada um dos marcos da discussão sobre integridade na ciência no Brasil. O objetivo deste trabalho foi discutir tais diretrizes sob enfoque comportamentalista, considerando-as como regras. Embora as regras ofereçam vantagens à aquisição de boas práticas pelos pesquisadores, o ensino da moralidade não deveria se restringir à exposição desses profissionais a essas diretrizes, mas oferecer condições para que eles fiquem sensíveis a diferentes questões éticas que podem surgir no contexto de produção de conhecimento científico. A análise do documento publicado pelo CNPq mostra, ainda, que as consequências atreladas às más e às boas práticas em ciências são tardias e inespecíficas. Por outro lado, a literatura consultada correlaciona a fraude na ciência às exigências de produtividade científica: em alguns casos, as más condutas parecem permitir a adaptação do pesquisador às exigências de produtividade. Além disso, consequências associadas às contingências de produtividade acadêmica são mais imediatas podendo, portanto, exercer maior controle sobre o comportamento do cientista. A discussão sobre a fraude científica, nesse sentido, implica considerar as atuais contingências acadêmicas.
Considerando estudos que investigaram correlações positivas entre alta-produtividade acadêmica e problemas orgânicos e psicológicos, esta pesquisa, orientada pelos pressupostos teóricos da Análise do Comportamento, buscou caracterizar algumas contingências envolvidas na produção acadêmica universitária, priorizando os aspectos psicológicos/comportamentais (sentimentos, emoções, pensamentos) dessas relações. Participaram deste estudo, de cunho exploratório, três professores bolsistas produtividade em pesquisa do CNPq. Os resultados, obtidos por meio de uma entrevista semiestruturada, e discutidos segundo o método de interpretação analítico-comportamental, permitiram identificar contingências distintas que participaram da origem e da manutenção do comportamento de pesquisar. As condições que instalaram o comportamento de estudar eram predominantemente aversivas, marcadas pelo controle por regras e pelo sentimento de responsabilidade. Já o comportamento contemporâneo de pesquisar passou a ser controlado, de modo preponderante, pelas consequências naturais positivas dessa atividade, emergindo, nessas relações, sentimentos de prazer com respeito ao pesquisar. A despeito dessas condições, verificou-se também baixa autoestima e algumas consequências aversivas tardias em diferentes esferas da vida dos entrevistados, decorrentes de uma dedicação exclusiva à academia. Este estudo reitera a necessidade de se delinear caminhos alternativos a uma prática docente permeada por consequências aversivas imediatas ou em longo prazo, construindo condições mais libertárias no exercício da profissão.
Objetivo. Sistematizar diretrizes a respeito da utilização da técnica de entrevista semiestruturada em estudos científicos. Desenvolvimento. A técnica de entrevista foi dividida em seis etapas (elaboração e testagem do roteiro de entrevista; contato inicial com os participantes; realização das entrevistas; transcrição das entrevistas; análise dos dados e relato metodológico) e foram apresentadas recomendações em relação a cada uma delas. Demos especial destaque para as etapas de transcrição e de relato metodológico das entrevistas, visto que, em geral, são etapas negligenciadas tanto em estudos que empregam essa técnica quanto em trabalhos que especificam diretrizes para a sua utilização. Implicações. As diretrizes arroladas podem ser especialmente úteis para alunos de pós-graduação e para investigadores que não têm familiaridade com a técnica de entrevista semiestruturada. Nossas recomendações, no entanto, não contemplam particularidades de entrevistas de outras naturezas.Palavras-chave. Técnica de coleta de dados; Entrevista semiestruturada; Transcrição; Produção científica.Guidelines for the use of semistructured interviews in researchAbstractObjective. Systematize guidelines regarding the use of the semistructured interview technique in scientific studies.Development. The interview technique was divided into six stages (preparation and testing of the interview guide; initial contact with the participants; conducting the interviews; transcription of the interviews; data analysis and methodological reporting) and recommendations were presented in relation to each one of them. The steps of transcription and methodological reporting of the interviews were highlighted, because, in general, they are neglected steps both in studies that use this technique and in works that specify guidelines for its use.Implications. The guidelines listed can be especially useful for graduate students and researchers who are unfamiliar with the semistructured interview technique. Our recommendations, however, do not contemplate particularities of other types of interviews.Keywords. data collection technique; semistructured interviews; transcription; scientific production.
Resumo A ciência e a pós-graduação brasileiras remontam a um passado recente, com expressivo crescimento no decorrer das últimas décadas. Considerando o comportamento do cientista como objeto de estudo psicológico, o objetivo deste trabalho foi investigar possíveis diferenças entre as variáveis responsáveis por instalar e manter o comportamento acadêmico de pesquisadores seniores e iniciantes. Participaram desta pesquisa, de natureza exploratória, seis professores bolsistas de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico das áreas de Psicologia, Genética e Física - sendo um pesquisador sênior e um pesquisador iniciante de cada área. Os dados, coletados por meio de entrevistas, foram analisados mediante o procedimento de interpretação analítico-comportamental. A análise do relato verbal das participantes seniores indica que o comportamento acadêmico das entrevistadas foi instalado por meio de contingências associadas à formação clássica; os participantes iniciantes, por outro lado, foram expostos a uma formação básica profissionalizante. Em acréscimo, as participantes seniores titularam-se doutoras sob contingências informais, e os participantes iniciantes doutoraram-se por meio de contingências delimitadas institucionalmente. Na contemporaneidade, o comportamento acadêmico das participantes seniores é mantido por meio de contingências de reforçamento natural. O relato verbal dos participantes iniciantes indica que o comportamento acadêmico dos entrevistados é, atualmente, distanciado das suas consequências naturais imediatas. As principais diferenças encontradas entre as contingências originárias e mantenedoras do comportamento acadêmico dos participantes seniores e iniciantes parecem exprimir, especialmente, as diferentes contingências a que os entrevistados foram expostos ao longo da formação acadêmico-científica.
A psicologia da ciência é uma das disciplinas que integram a metaciência e visa elucidar a dimensão psicológica do fazer científico. Como um sistema teórico-metodológico na psicologia, a Análise do Comportamento ocupa uma posição periférica nos estudos psicológicos da ciência. Essa posição não parece se justificar pela ausência ou discussão incipiente da atividade científica no domínio analítico-comportamental. Considerando as contribuições da Análise do Comportamento ao exame da ciência, o objetivo deste trabalho é descrever os princípios de uma psicologia comportamentalista da ciência. Esses princípios são evidenciados cotejando-os com o objeto de estudo, os objetivos e as aplicações do campo da psicologia da ciência. A Análise do Comportamento, como disciplina psicológica metacientífica, pode contribuir com a investigação das variáveis controladoras do comportamento científico, podendo, com isso, fomentar o ensino de habilidades científicas, bem como aprimorar a produção e a avaliação da ciência. Mesmo circunscrita ao comportamento individual, uma psicologia da ciência analítico-comportamental pode dialogar com outras disciplinas metacientíficas, disponibilizando informações que podem elucidar aspectos filosóficos, históricos e sociológicos da ciência. Inversamente, interlocuções com essas áreas podem consolidar a proposta de uma psicologia comportamentalista da ciência, evidenciando os seus limites e descortinando outras possibilidades de estudo do fazer científico com base nos princípios e conceitos da Análise do Comportamento.Palavras-chave: Psicologia da ciência, comportamento do cientista, comportamentalismo radical, Análise do Comportamento, metaciência.
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