Artigos IntroduçãoA sexualidade ainda é um dos assuntos mais difíceis de ser pensado e discutido nos dias atuais. Cercada por preconceitos, mitos e tabus, ela se torna ainda mais complexa quando a discussão remete à homossexualidade, vista ainda por muitos, equivocadamente, como um desvio da sexualidade.Historicamente, por volta de 1870, a medicina começou a constituir a homossexualidade como objeto de análise médica. A partir deste momento, vieram muitas intervenções e controles na busca por uma sexualidade dita normal (FOUCAULT, 1996).A homossexualidade, considerada inicialmente no meio científico como transtorno, começou a ser pensada de maneira diferente no Brasil quando, em 1985, o Conselho Federal de Medicina (CFM) retirou-a da condição de transtorno sexual (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2008). Nessa mesma perspectiva, em 1999, o Conselho Federal de Psicologia estabeleceu a Resolução CFP nº 001/99, que afirma que a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio ou perversão. Junto a isso, colocou diretrizes para nortear a prática dos profissionais, no sentido de eliminar procedimentos que ofereciam a "cura" de alguma orientação sexual que estivesse fora do padrão heterossexual (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1999).Ainda assim, o preconceito e a reprovação em relação aos homossexuais continuam vigentes no Brasil em pessoas ou grupos como, por exemplo, aqueles ligados a algumas religiões fundamentalistas cristãs. De acordo com Brandão (2002), o Catolicismo ainda reprova a relação entre pessoas do mesmo sexo e essa reprovação recebe um forte incremento de grupos religiosos com presença política importante em todos os níveis de tomada de decisão, sobretudo as pressões da Bancada Evangéli-ca do Congresso Nacional brasileiro. Exemplificamos essa atuação no campo escolar com os acontecimentos de 2008, quando os Ministérios da Saúde e da Educação lançaram um projeto intitulado Escola sem Homofobia para responder às dificuldades dos professores em lidar com esse assunto. Após os ataques da bancada religiosa no Congresso Nacional, em maio de 2011, a presidente Dilma Roussef cancelou o projeto e os Ministérios da Saúde e da Educação foram instruídos a suspender todas as atividades relacionadas ao projeto.Entretanto, com o fato de que essas questões estão ganhando maior visibilidade social nos dias de hoje, várias reivindicações aparecem no cenário atual, de modo que as pessoas clamam pelo direito do exercício de formas inéditas de paternidade e maternidade. Em relação aos casais homossexuais, essas reivindicações provocam resistência, tanto no campo da sociedade, quanto no campo teórico (PERELSON, 2006).Várias ideias preconceituosas, como afirmar que a criança não poderia se desenvolver plenamente sem um pai e uma mãe, definidos pelo sexo biológico como sendo um homem e uma mulher, ou que as crianças criadas por Homoparentalidade: um diálogo com a produção acadêmica no Brasil
The themes of sexuality and gender must be addressed at all stages of schooling. However, there is a certain invisibility during childhood, as well as a lack of interventions focused on educators. This study aimed to evaluate the effectiveness of a formative intervention about sexuality and gender in teachers of Early Childhood Education, in relation to the level of prejudice and attitudes related to sexual and gender diversity, gender roles, and educational competences for working with LGBT students. In total, 37 teachers participated in the study. Descriptive statistics and bivariate analyses were performed in the form of parametric tests (paired samples t-tests) and a thematic analysis. The intervention was positively evaluated, the prejudice level was significantly reduced and there was an immediate effect in relation to the application of knowledge. We suggest the development of interventions on subtle manifestations of prejudice towards sexual diversity and gender roles.
O objetivo deste artigo é mapear a produção acadêmica sobre intervenções realizadas no âmbito escolar brasileiro nos campos de sexualidade e gênero. Foi realizada uma revisão de escopo (Scoping Review) nas bases de dados Scielo, Lilacs, Pepsic e Google Acadêmico. Verificamos que após o ano de 2012 a produção do campo se intensifica; a maioria das intervenções atua diretamente com alunos, principalmente de anos finais do ensino fundamental e do ensino médio; os delineamentos metodológicos mais utilizados são os qualitativos e o discurso crítico é o que fundamenta a maior parte das publicações, seguido pelo liberal e pós-moderno. Pontua-se, entretanto, a necessidade de investigações desde a faixa etária infantil e que tenham como público-alvo professores/as e educadores/as. Os estudos do tema nas áreas da psicologia e educação devem ser reforçados para que possam trabalhar como propulsores de garantia de direitos e de qualidade de vida para todas as pessoas.
O presente artigo se propõe a explorar e discutir as motivações de profissionais da Educação Infantil para a formação e capacitação nas temáticas de sexualidade e gênero. Um questionário foi respondido por 96 participantes e as respostas foram analisadas através da frequência de palavras e de análise temática. Dos resultados emergiram dois principais temas para discussão: 1) a falta de conhecimento sobre sexualidade e gênero e 2) os atravessamentos da temática no contexto da Educação Infantil. O desenvolvimento de estratégias de capacitação/formação de professoras/es nessas temáticas é necessário para embasar as suas práticas cotidianas, proporcionar maior segurança em suas intervenções diárias - considerando a atual posição de vulnerabilidade dessas/es profissionais – e garantir a proteção dos direitos das crianças e das famílias que integram as instituições escolares.
Este estudo qualitativo objetiva discutir a homossexualidade e a homoparentalidade a partir de narrativas produzidas por 34 professoras atuantes em 17 diferentes escolas de educação infantil do município de Novo Hamburgo (RS). Metodologicamente, histórias narrativas foram usadas como procedimento para acesso a produções imaginativas e, posteriormente, os resultados foram analisados pelo processo de análise de conteúdo (Bardin, 2011). Esses resultados revelam os dilemas que atravessam a temática, como ideias de preconceito e desaceitação, estigmas remanescentes e a influência da patologização e da normatização relacionadas ao assunto. Embora os dilemas estejam presentes, as participantes abordam os significados de família com uma concepção de amor e diversidade. As narrativas das professoras nos possibilitam questionar a maneira como as temáticas elencadas são tratadas nas escolas. De acordo com essa assertiva, sugerem-se novos estudos que investiguem a forma pela qual essas concepções interferem na prática diária das professoras e professores de nosso país.
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