O campo dos cuidados no território brasileiro deflagra uma história perpassada por subjugação e desvalorização. O que já era pensado como campo problemático em diferentes produções feministas foi evidenciado exponencialmente a partir do advento pandêmico: a crise que vivemos, social-sanitária-econômica, é também uma crise das políticas do cuidado. Este artigo busca cartografar este campo problemático através da criação de uma rede de histórias entre pessoas ocupadas de um cuidar: sujeitas interpeladas mulheres e mães, que vivem os anos de 2020 e 2021. Analisa-se a questão a partir de diferentes feminismos que consideram a intrínseca relação entre raça, gênero e classe. As histórias são condensadas de diferentes encontros e propõem uma ampliação em sistemas narrativos. Por meio delas, aponta-se para a concepção do cuidado como relacional, em uma perspectiva feminista, considerando o espaço doméstico como parte fundamental dessa construção.Palavras-chave: feminismo; maternidade; contação de histórias, cuidado; pandemia.
Este trabalho apresenta enquanto temática a saúde mental de mulheres que são mães, trazendo aproximações entre campos da psicologia social, da assistência social e de uma prática clínica. Surge no campo de problematizações entre políticas socioassistenciais e as maternidades, campo este ampliado-neste trabalho-para uma discussão acerca de grupos de escuta que são compostos por mulheres e que acontecem em Porto Alegre/RS. Trata-se de um recorte de pesquisa de mestrado e é um ensaio fundamentado em metodologia feminista que se vale da ficcionalização de histórias a partir de diferentes encontros no contexto da pesquisa. Objetiva propor discussão a partir de algumas práticas de escuta enquanto invenção de modos de cuidado que estejam inseridos em seara ampliada na garantia de direitos sexuais e de direitos reprodutivos dessas pessoas interpeladas enquanto mulheres e interpeladas enquanto mães.
Sara de Lima Saeghe Alcanfor XimenesAdvogada, Mestranda em Agronegócio na linha de pesquisa Agricultura Familiar e o Agronegócio-PPGAGRO-UFG; Especialista em Direito do Consumidor (Faculdade Darwin); Formada em Direito (Unievangélica); Docente Universitária com atuação em cursos de graduação, pós-graduação lato sensu e preparatórios para o exame da OAB.
Como narrar histórias de vidas acompanhadas na Assistência Social? Pergunta que move este ensaio que é pensado a partir da interface entre Psicologia e Assistência Social e objetiva discutir as relações entre performance de maternidade, cuidado e racismo nas políticas públicas de Assistência Social. Um ensaio que se constitui a partir do entrelaçamento de narrativas de mulheres e reflexão teórica. Para isso, vale-se de histórias de mulheres, dados sobre o genocídio da população negra – pautado por estatísticas de violência policial e estatal, que faz de mulheres-mães também vítimas: mulheres órfãs de filhas/os vivas/os. Inspiradas por Jorge Larrosa, lançamo-nos ao ensaio enquanto constituição do pensamento. Ensaiar sobre a maternidade em contexto da Assistência Social nos leva a problematizar as relações entre cuidado e violência, interseccionadas pelas relações raciais. Temas como raça, racismo, genocídio da população negra, maternidade, cuidado e Assistência Social constituem o eixo problemático deste ensaio. Utilizamo-nos do ensaio como dispositivo para refletir sobre possibilidades para a constituição de narrativas femininas na Assistência Social.
A Política de Assistência Social é marcada pela centralidade na maternidade no desenvolvimento de suas ações. A família e a manutenção dos vínculos comunitários e familiares são porta de entrada dos serviços socioassistenciais na vida das pessoas usuárias. Nesse contexto, essa pesquisa tem como ponto de partida a interface entre a Psicologia e a Assistência Social, no âmbito das Proteções Básica e Especializada do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Tem por objetivo colocar em discussão uma aproximação possível entre a Política de Assistência Social e a Política de Saúde, através da garantia de Direitos Sexuais e Reprodutivos para as mulheres que são beneficiárias dos serviços. Para isso, utilizamos a análise de documentos pertinentes para essa discussão. A partir desses procedimentos, criamos cenas que nos possibilitam colocar em análise a interface a que nos propomos discutir, que narram vidas que permeiam as situações de I) mulheres que utilizam a rua como espaço de moradia/sobrevivência e que não podem exercer a maternidade; II) jovens mulheres que tem seus corpos controlados a partir de métodos hormonais no contexto do controle da sexualidade que acontece no Acolhimento Institucional; III) mulheres que acessam os serviços da Proteção Social Básica e são chefes de família; IV) mulheres que precisam da autorização de seus companheiros para fazer o procedimento de laqueadura. Por fim, apontamos para a necessidade de discutir a garantia dos direitos sexuais e reprodutivos para além do campo da saúde pública, considerando a Assistência Social como terreno profícuo para tal.
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