O artigo analisa as reformulações das práticas e dos comportamentos sociais na Gália entre os séculos VI e VII em conexão com a inclusão de valores cristãos por parte da realeza merovíngia em seus atos de governação. A proposta é tentar delinear o que era este projeto e o que ele implicava em termos de normatização de condutas. Para tanto, examinar-se-á os textos conciliares resultantes das assembleias episcopais do período, que oferecem exemplos de medidas que caminhavam neste sentido.
Entre os séculos VIII e X, diferentes autoridades governantes no Ocidente e no Oriente expediram normas em favor dos “pobres”. Neste artigo, pretende-se entender os motivos que as levaram a se ocuparem do tema, em especial da “opressão dos pobres”. Sob a perspectiva da “História Global”, realizou-se uma abordagem comparativa favorecendo a identificação de fenômenos transformadores e particulares, ao mesmo tempo em que se repensou as interpretações tradicionais da historiografia a respeito dos “pobres” em ambos espaços. Observou-se que os usos dos termos referentes a eles nos textos normativos bizantinos e carolíngios não foram apenas um testemunho estatístico do empobrecimento de suas respectivas sociedades, mas também resultado dos interesses dos agentes envolvidos na elaboração destes documentos, as cortes bizantina e carolíngia, tratando-se também de uma questão política.
influência da literatura cristã: o livro de leitura elementar era o Livro de Salmos; a Vulgata , uma referência de vocabulário universal (RICHÉ 1999: 69-79; 222-224).E qual a relevância dessa conjuntura para o nosso tema? É o caso de saber como o termo pauper ocorre nestes textos-chave cristãos. Por exemplo, a palavra " pauper " aparece 244 vezes no texto bíblico, 32 delas no Novo Testamento . Se lembrarmos os seus sinônimos 13 mais comuns na língua latina (v. LIEBER & RAMSHORN 1841: 339; FRIEDEMANN & KOCH 1860: 144), " egens "/ " egenus " é citada 45 vezes (11 delas no Novo Testamento), " inops " 22 vezes (nenhuma delas no Novo Testamento) . Provavelmente, uma das razões 14 para esta disparidade esteja ligada à tradução do texto bíblico por Jerônimo: o termo " pauper " empregado pelo autor na versão latina traduziria duas palavras diferentes da versão grega, a saber ptôchós ("mendicante", "suplicante") e pénes ("aquele que tem necessidade de trabalhar", em oposição à ideia de ócio das elites helênicas que poderiam dedicar-se à atividades para além da subsistência, como a política, a filosofia e as artes) (sobre a tradução da Bíblia para a língua latina por Jerônimo, ver CHAPMAN 1922CHAPMAN -1923 ; sobre a 15 correspondência entre " pauper " e " ptôchós " e " pénes ", ver LECLERCQ 1974: 39-40 e PATLAGEAN 1977.13 Os números aqui apresentados incluem, obviamente, as flexões de caso de cada palavra na língua latina.14 A busca pelos termos foi feita no Clementine Vulgate Project ( http://vulsearch.sourceforge.net/cgi-bin/ vulsearch ), que como o nome indica, tem por base a Vulgata Clementina publicada em 1592 pelo papa Clemente VIII (✝ 1605).15 Este favorecimento da palavra " pauper " para a tradução de diferentes termos gregos não é exclusivo da Vulgata . Ele teria ocorrido desde as primeiras traduções da Bíblia para o latim colocadas em uso nas comunidades cristãs antes do Papa Dâmaso I (✝ 384) comissionar a tradução do texto bíblico a Jerônimo (✝ 420), num conjunto de textos que ficou conhecido como Vetus Latina (sobre a história e os manuscritos da Vetus
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