Introdução: A automedicação para COVID-19 é considerada um problema emergente e que reflete o momento de infodemia e de crescimento da doença no Brasil. Nesse sentido, a Atenção Primária à Saúde, em que ocorre a maior parte do acesso dos casos leves e moderados de COVID-19, tem-se mostrado um lugar privilegiado para a abordagem de pacientes em uso irracional desses medicamentos. Objetivo: Discutir questões sobre a automedicação voltada para a COVID-19, abordando particularidades do processo de trabalho do médico de família e comunidade (MFC) e as perspectivas para esses profissionais num cenário de grandes tensões político-sanitárias. Métodos: Trata-se de um ensaio teórico que se baseia nas premissas do uso racional de medicamentos (URM) e da medicina baseada em evidências para sintetizar uma proposta de atuação de MFC à luz dos principais documentos e normativas produzidas sobre o tratamento da COVID-19 no país. Resultados: Por meio do referencial teórico, são apresentadas duas estratégias principais para a abordagem dos casos de automedicação para COVID-19: uma do ponto de vista individual, que envolve a desprescrição desses medicamentos mediante um entendimento acordado entre o MFC e o paciente; e uma de cunho sistêmico, ligada ao combate à venda irregular de medicamentos voltados para a COVID-19 no território de atuação desse profissional. Conclusões: As disputas políticas em torno da pandemia ainda continuam vivas e devem persistir por longa data no Brasil. Cabe aos profissionais de saúde e à sociedade como um todo defender o URM e combater a utilização de medicamentos desnecessários, inefetivos, inseguros ou potencialmente inadequados no contexto da COVID-19, protegendo assim a vida e o bom uso dos recursos da população.
Objetivo: discutir os desafios para a construção de uma política pública de segurança do paciente na Atenção Primária à Saúde (APS) brasileira frente ao crescimento da síndrome de burnout entre seus profissionais. Metodologia: pesquisa bibliográfica e documental sobre a segurança do paciente e o burnout entre trabalhadores da APS utilizando o referencial dos direitos humanos e a matriz teórica de Maslach e Jackson. Resultados: o burnout possui implicações sanitárias severas nos profissionais da APS e repercute sobre o processo de trabalho das equipes, gerando prejuízos nas ações e estratégias de segurança do paciente. As políticas de segurança do paciente e de saúde do trabalhador no Brasil são dialógicas e complementares, mas mostram-se insuficientes para impactar o cenário do burnout na APS frente à estagnação e retrocessos vivenciados recentemente nesse nível de atenção. Considerações finais: a resposta institucional para a abordagem da síndrome de burnout na APS tem sido insatisfatória. Para além do arcabouço das políticas preexistentes, mostra-se urgente a realização de mudanças no financiamento da APS e no aporte de equipes multiprofissionais para a melhoria das condições de trabalho que, em última instância, refletem na segurança do paciente na rede primária.
Resumo O objetivo desta nota de conjuntura é analisar o desenvolvimento dos Programas Mais Médicos e Médicos pelo Brasil em áreas remotas e rurais amazônicas, apontando desafios e disputas decorrentes de implementações locais. Realizou-se levantamento bibliográfico e de dados observacionais sobre esses programas na Amazônia Legal e o provimento médico na Atenção Primária à Saúde brasileira entre 2013 e 2022. Identificou-se literatura com tendências positivas sobre o processo de trabalho, além de indicadores de cuidados primários com a implantação do Mais Médicos nessas localidades, mas que foram drasticamente afetados após a ruptura da cooperação Brasil-Cuba em 2018. Alternativas como a contratação de médicos brasileiros graduados no exterior pelo Mais Médicos e a promessa de carreira do Médicos pelo Brasil não se mostraram suficientes para garantir cobertura razoável das equipes locais. Percebe-se o esvaziamento progressivo do Mais Médicos na região sem equivalente reposição de profissionais do Médicos pelo Brasil. Reconhece-se a carência de estudos sobre o Mais Médicos na Amazônia, em especial após 2018, bem como de dados sobre os desdobramentos iniciais do Médicos pelo Brasil. Mostram-se necessários o preenchimento de lacunas e a superação dos retrocessos no provimento médico local, sob risco de perpetuação de iniquidades graves no campo da saúde.
Neste ensaio teórico buscou-se refletir sobre como ações emergenciais e estratégicas do Sistema Único de Saúde de enfrentamento ao novo coronavírus podem alicerçar a reconstrução da economia no pós-pandemia. Tomou-se como base neste exercício a Região Administrativa da Ceilândia, no Distrito Federal (DF): região mais populosa do DF, de renda média/baixa, com economia baseada em serviços, foi bastante afetada economicamente com as medidas de isolamento social e apresentou grande número de casos e mortes por COVID-19. A Ceilândia tem recebido investimentos importantes em novos leitos hospitalares e mais profissionais para o nível terciário, embora a Atenção Primária à Saúde seja sabidamente mais custo-efetiva para a organização de sistemas de saúde e capaz de economizar preciosos recursos das famílias com gastos em saúde no setor privado, sobretudo num cenário de grande retração da massa salarial. Conclui-se que investimentos na qualificação da rede primária já instalada e sua expansão são estratégias potentes para o desenvolvimento econômico da Ceilândia no pós-pandemia.
Em cenários de desastres naturais, o setor saúde costuma ser um dos mais demandados, contudo nem sempre se encontra devidamente preparado para atuar em situações adversas. A Atenção Básica à Saúde (ABS), neste sentido, apresenta grande potencial de intervenção sobre os territórios afetados mas carece, em grande medida, de qualificação e suporte institucional. Neste sentido, o presente artigo traz o relato de uma experiência vivenciada pelo município de Ilhabela-SP, acometido por fenômenos climáticos de grandes proporções, e a gestão de risco desenvolvida sob a ótica de sua ABS. A análise do caso traz discussões sobre os desafios enfrentados pelas equipes e o papel do poder público na preparação e resposta aos desastres, sobretudo em regiões de maior vulnerabilidade.
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