Se o futebol é parte da cultura do Ocidente, e não só dele, é certo que se desenvolve com particularidades em cada contexto histórico e social. Fazem parte desse movimento as interpretações formuladas não apenas sobre ele, mas, a partir dele, sobre a sociedade em que se enraíza. No caso do Brasil, isso se coloca, entre outros aspectos, nas disputas em torno do que demarcaria certa autenticidade nacional. O futebol-arte convive com interpretações que veem no jogo um momento mais minimalista, técnico, mas nem por isso desprovido de expressividade estética, a qual se transforma, eventualmente, em deleite intelectual. O ensaio argumenta a favor de uma crítica cultural que considere a dialética do futebol como expressão modernizadora de um país periférico, ao passo que observa suas possibilidades expressivas, mas com algum distanciamento que autorize um comentário não apenas laudatório. O futebol pode ter expressão estética e dele se extrai material para a arte: literatura, cinema, pintura, teatro etc. Por outro lado, a crítica social não pode desprezar a materialidade do que acontece no interior do campo, tampouco alhear-se do que a compõe em seu enraizamento social: classe, etnia, gênero, geração e outros dispositivos que compõem a obra esportiva em sua expressividade.