“…Resumo Este artigo é parte de uma pesquisa que buscou cartografar saberes e fazeres antirracistas em saúde mental por meio do acompanhamento das práticas de três coletivos de profissionais trabalhando na/com a rede de atenção psicossocial na cidade de São Paulo, o que possibilitou caracterizar suas estratégias de intervenção. Buscando contribuir para sua conceitualização, delineamos, por meio da revisão da literatura descolonial, três ideias-força que nos permitem dar corpo à descolonização da Reforma Psiquiátrica: o desnortear, que, em diálogo com Achille Mbembe e Frantz Fanon, nos convida à afirmação da loucura e da negritude -sem, no entanto, estabelecer fixações; o antimanicolonial, que se dá no fomento do exercício livre e contracultural de imaginar diásporas, em relação com as proposições de Édouard Glissant, Paul Gilroy e Lélia Gonzales quanto a uma (des)orientação atlântica na qual elementos da diáspora negra e da América Latina possam ressignificar negritude e desrazão; e o aquilombar, como práxis libertária que tem em sua gênese os quilombos como metáfora viva da radicalização das relações nas diferenças, a partir do quilombismo de Abdias do Nascimento, da quilombagem de Clóvis Moura, do (k)quilombo de Beatriz Nascimento e do devir quilomba de Mariléa de Almeida. Palavras-chave Colonialidade, Racismo, Saúde mental, Atenção psicossocial, Saúde da população negra introdução Estudos recentes apontam que as relações raciais são pouco debatidas pela Reforma Psiquiátrica brasileira [1][2][3][4][5] e, quando abordadas, não necessariamente são pensadas/sustentadas na perspectiva interseccional 6 . O apoucado debate sobre raça e manicomialização no Brasil é um contrassenso que só pode ser explicado pelo próprio racismo, aquilo que dificulta ou impede de percebermos os sentidos da raça (e seu funcionamento) na organização colonial dos/nos processos de manicomialização em nosso país.…”