Dificuldades costumam estar associadas a sofrimento, mas podem também ser mote para reflexão e cuidado. Nesse artigo trabalhamos alguns desdobramentos da pesquisa desenvolvida ao longo de seis anos em um hospital universitário do norte do país, mais especificamente aqueles que surgiram a partir das intervenções clínicas no serviço que acolhe crianças com autismo, síndromes neurológicas graves, problemas de aprendizagem, hiperatividade, dentre outros diagnósticos. Como analistas no hospital, orientadas pelo método clínico, partimos dos pressupostos freudo-lacanianos que sustentam a suspensão diagnóstica, até que se tenha apreendido, para além das causas orgânicas, as tramas simbólicas imbricadas com o sintoma da criança. Como instrumento de trabalho utilizamos a escuta dos pais e da criança, a transferência e a relação terapêutica como eixos centrais para o tratamento, pois acreditamos que o diagnóstico apressado pode precipitar prescrições medicamentosas cujos efeitos seriam prejudiciais para o desenvolvimento infantil. Problematizamos as dificuldades no trabalho clínico nas instituições as quais, muitas vezes, funcionam na contramão da aposta na saúde psíquica com suas particularidades. Foi possível constatar que há possibilidade de sensibilizar a equipe para a importância de acolher o que é da ordem da experiência, dando alguma possibilidade de amarração para o sujeito do inconsciente. Para tanto, devemos efetivamente sustentar junto à equipe, a possibilidade de emergência do sujeito, este que é dividido e que porta um saber que ele desconhece. Aposta importante, não apenas para o tratamento da criança e seus pais, mas também para o trabalho multidisciplinar, no qual seguimos no exercício (im)possível da intertextualidade.