Sabemos que a memória é uma caixa de lápis de cor, como dizia o grande poeta Mário Quintana, onde o preto e o branco não estão presentes. Ozouf (2009, p. 270), ao finalizar suas memórias, afirma «Depois de tudo, é o indivíduo que tem a pena e se faz narrador de sua vida: o narrador, isto é, o ordenador, o arranjador, o intérprete. A narração é libertadora, (…) ela que desenha a identidade». É com essa perspectiva que passo a responder as questões propostas. Para começar, devo assinalar, primeiramente, o meu encontro com a História a partir do ginásio, no Colégio Estadual Pio XII (1962-1965), e no clássico, no Colégio de Aplicação da UFRGS (1966-1968). O Colégio Pio XII se localizava atrás da sede do governo do estado-Palácio Piratini 1 , portanto no centro do poder político da cidade. No período em que cursei o ginásio público (escola só de mulheres), nas classes experimentais 2 , vivi um ensino ativo, estimulante, criativo, desafiante, que me transformou em uma estudante cativa e apaixonada pelo estudo. Minha vida era a escola, onde passava 8 horas por dia, tendo aula aos sábados pela manhã e folgando 4º feira à tarde, o mesmo dia de folga das escolas francesas (será coincidência?). O Colégio Pio XII estava ligado ao Palácio por uma grande escadaria, palco de brincadeiras, sessões de estudo, discussões, onde fui espectadora dos acontecimentos de 1964