Desde o início do presente século, mudanças significativas ocorreram em relação à distribuição de renda na sociedade brasileira, que recentemente apresentou queda das desigualdades e crescimento das faixas intermediárias de rendimento. Com base nesta informação, junto ao crescimento econômico ocorrido no período, a interpretação mais conhecida a respeito dessas recentes mudanças no Brasil é aquela que afirmava estarmos diante do crescimento da classe média. O objetivo deste artigo é aprofundar essa discussão, através do prisma sociológico. Procuramos, por meio dos microdados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 2002 a 2013, verificar a relação entre as recentes mudanças na distribuição de renda e a estrutura de classes no Brasil. Buscamos, assim, analisar se é possível encontrar modificações significativas no que se refere à desigualdade de rendimentos entre categorias sócio ocupacionais. Como resultado, apresentamos evidências de que, em vez de crescimento das camadas médias, seria mais correto falarmos em fortalecimento das classes assentadas no trabalho.Since the beginning of this century, significant changes occurred in relation to the distribution of income in Brazilian society, which recently has seen reduced inequality and middle income growth. On the basis of this information, alongside economic growth, the best-known interpretation of those changes in Brazil was the one that affirmed that the Brazilian middle class was enlarging. The main objective of this article is to deepen this discussion. Through microdata from 2002 to 2013 of the National Household Sample Surveys, we look at the relationship between recent changes in income distribution and class structure in Brazil. We analyze whether it is possible to identify significant changes in income inequality across socio-occupational categories. As a result, we present evidence that, rather than growth of the middle class, it is more correct to speak of a more affluent working class.Recentemente, desde o início deste século, mudanças significativas ocorreram em relação à distribuição de renda na sociedade brasileira (Barros et al. 2010). Apesar de o país ainda poder ser caracterizado por seu elevado e histórico nível de desigualdades, desde 2001 o coeficiente de Gini vinha caindo continuadamente, alcançando os menores valores das últimas três décadas, e a renda dos mais pobres crescia de forma substantiva, acarretando um declínio dos níveis de pobreza e miséria. Com base em indicadores socioeconômicos como estes, estejam eles relacionados à distribuição de renda e/ou à diminuição de pobreza, é possível afirmar que nesse período identificamos melhorias significativas para uma grande parte da população brasileira.