Nas últimas décadas podemos identificar uma significativa expansão do Ensino Superior no Brasil, acompanhada de importantes alterações na composição socioeconômica dos estudantes. O objetivo principal deste trabalho é verificar se esses movimentos levaram também a uma redução das desigualdades nas chances de acesso a esse nível educacional. Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE), para os anos de 1995, 2005 e 2015, buscaremos não somente descrever as tendências observadas nas duas últimas décadas, como também testar empiricamente, por meio de modelos multivariados, a hipótese de redução das desigualdades de acesso. Mais especificamente, estaremos interessados em avaliar a possível redução dos efeitos de classe de origem sobre as chances de acesso ao Ensino Superior, assim como sobre a qualidade desse acesso, se através da rede pública ou privada, ao longo das últimas duas décadas.
Resumo: Este artigo analisa o surgimento de uma nova classe média, como vem sendo proposto pelos economistas brasileiros, à luz da perspectiva sociológica dos Estudos de Classe. Para tanto, recupera o debate da Economia, que se baseia na renda para definir classes, assim como o da Sociologia da Estratificação, de acordo com seus diferentes marcos teóricos. Usando dados das PNADs 2002 e 2009, apresenta o argumento de que as mudanças na estrutura de classes não foram significativas a ponto de apoiar a ideia de uma nova classe, nem houve um crescimento na classe média tradicional. Palavras-chave: Classe Média, Desigualdades, Estratificação, Renda, Consumo. Apresentação N as últimas décadas, não houve momento mais oportuno do que este para falar sobre a classe média no Brasil. Atualmente, o debate em torno desse tema é tão intenso que tem ultrapassado os limites da academia e se espraiado, através do debate público, para os jornais impressos, revistas, televisão, etc. De uma maneira geral, tem sido constantemente defendida a ideia de crescimento da classe média no Brasil ou, até mesmo, de surgimento de uma nova classe média.Não são raras as reportagens a respeito de famílias que, devido a melhorias em sua renda, vêm aumentando o padrão de consumo e conquistando espaço em mercados antes exclusivos a setores mais abastados. Exemplos que têm servido para ilustrar a ideia de que o Brasil teria se tornado um país composto, em sua maioria, por famílias de classe média.Este debate foi, em grande parte, impulsionado por recentes trabalhos de acadêmicos que definem as classes exclusivamente, ou em parte, através da renda ou do acesso ao consumo
The article deals with the relationship between race, class and income in Brazil, with the main objective of investigating the determinants of racial inequality in the country’s labour market. By making use of structural equation models, it analyses the process of setting income differentials between whites and blacks, from their social origin to the definition of wages, through schooling and occupational allocation. The analysis, based on data from the Brazilian National Household Sample Survey, collected in 2014, allows us to compare direct, indirect and total effects of race and social origin on income from work. Results show that, although the total effects of social origin are larger than racial effects, the former cannot explain most disadvantages suffered by blacks nowadays in Brazil, which occur mainly indirectly – through education and occupation. Thus, the study brings new, updated and more detailed evidence to a long-standing debate.
INTRODUÇÃON os últimos anos, tornou-se comum no Brasil ler, ouvir e discutir a respeito da chamada "nova classe média brasileira", a já famosa "classe C". O debate sobre esse tema foi impulsionado primeiramente pela publicação dos resultados de uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV), coordenada pelo economista Marcelo Neri, na qual se afirmava que em 2008 o Brasil havia se tornado um "país de classe mé-dia". Tal conclusão decorria da constatação de que entre os anos de 2003 e 2008, devido aos então recentes avanços socioeconômicos do país (Barros et al., 2010), a maior parte da população brasileira já se encontrava na camada intermediária de renda -a "classe C". O estudo da FGV Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. E-mail: andre.salata@pucrs.br * Gostaria de agradecer à Celi Scalon, pela orientação ao trabalho de tese que originou este artigo, e a Marcelo Gomes Ribeiro pela leitura e sugestões feitas ao texto. Agradeço também a Bolívar Lamounier e ao Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) por disponibilizar a base de dados utilizada. As críticas e sugestões dos dois pareceristas anônimos da revista DADOS também foram muito importantes para chegarmos à versão final. De todo modo, sou inteiramente responsável pelos resultados, argumentos e conclusões.
IntroduçãoUma das características principais da abordagem weberiana sobre as desigualdades, que a distingue da perspectiva marxista (Scalon, 1999;Grusky, 2008), é o reconhecimento de múltiplas dimensões através das quais esse fenômeno se estrutura. Enquanto que, para Marx, as desigualdades na sociedade moderna se estruturariam essencialmente através das classes, em Weber encontramos a possibilidade de a sociedade estratificar-se também por status.1 Trata-se, portanto, de uma abordagem multidimensional da estratificação social. 2Apesar de ser esta uma concepção fundamental, e bastante conhecida, na obra de Weber, infelizmente nas últimas décadas pouca atenção tem sido dada à mesma, de modo que os estudos sobre o tema -mesmo entre aqueles autores considerados weberianos -têm conferido primazia à estratificação por classes (Wright, 1989;Goldthorpe, 2000), ou, mesmo quando trazem a ideia de status para seu campo de análise, o fazem distorcendo seu significado (Blau e Duncan, 1967;Treiman, 1977), ou então procurando reduzi-la a um epifenômeno da divisão por classes (Bourdieu, 2008).A importância de incorporarmos, de modo mais sistemático e profundo, a dimensão do status às pesquisas sobre estratificação tem sido lembrada por autores como Scott (1994) e Devine e Savage (2005). Recentes estudos têm inclusive procurado explorar os diferentes mecanismos através dos quais as hierarquias de status exerceriam efeito direto sobre a produção e reprodução das desigualdades sociais (Ridgeway, 2013). Nesse sentido, torna-se imprescindível contarmos com ferramentas adequadas para a sua mensuração. Somente nos últimos anos, no entanto, é que uma nova aborda-
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