Pelos dados apresentados, verifica-se que a alocação dos acidentes e das violências como problema de saúde pública é incontestável: seu reflexo na mortalidade evidencia-se em números elevados e crescentes, o mesmo ocorrendo com o panorama mostrado pelas internações hospitalares. Além de ocorrerem em freqüência elevada, foi visto que atingem uma população jovem, razão pela qual esses eventos se constituem no grupo campeão de anos potenciais de vida perdidos. Bangdiwala e col. 1 (1990) estimam a perda de cerca de 30 anos na expectativa de vida nos países americanos em desenvolvimento, e pode ser mostrado que, para o Brasil, seus custos são extremamente altos, tanto quando medidos diretamente através do desembolso com gastos hospitalares como, de maneira indireta, pela estimativa dos anos potenciais de vida perdidos. E, como se o mapeamanto dessas questões não fosse suficiente, há que se considerar que, embora a palavra "acidente" possa ter uma conotação de "eventual", "fortuito" e, portanto, "obra do acaso" e a violência possa ser, por alguns, considerada como inerente ao próprio homem, as causas externas, em todo o seu espectro de manifestações, são, em maior ou menor grau, previsíveis e preveníveis. É claro também que, apesar de todas as dificuldades, quando se estuda a sua gênese, depara-se com um quadro multifacetado e pluriforme, no qual intervêm fatores de natureza vária, deixando claro que qualquer abordagem a ser feita nesse sentido deve ser intersetorial e multidisciplinar.Nesse panorama complexo desponta a imperiosa necessidade de ações tendentes à reversão do quadro. Minayo 8 (1994) faz referência ao fato de que existe uma preocupação do ser humano em entender o fenômeno de violência a fim de atenuá-la, prevenila e eliminá-la da convivência social, pretensão que parece ser elevada demais, para não dizer inalcansá-vel e inatingível. Há, entretanto, série de atividades que poderiam e deveriam ser postas em prática visando à sua redução.Questão que tem sido bastante discutida, nesse contexto, refere-se ao papel a ser desempenhado pelo setor saúde que é, afinal, aquele onde vai recair o maior ônus de todo esse problema, ou seja, como foi visto na apresentação do presente trabalho, o atendimento das vítimas. A Organização Panamericana de Saúde, conforme citado por Minayo 8 , chegou a referir que o "setor saúde constitui-se na encruzilhada para onde confluem todos os corolários da violência, pela pressão que exercem suas víti-mas sobre os serviços de urgência, de atenção especializada, de reabilitação física, psicológica e de assistência social".A Figura 1 mostra o problema dos acidentes e violências agindo sobre uma população que, como conseqüência destes, seus habitantes podem, ao sofrer um acidente ou violência, sair do mesmo, sem qualquer lesão, mortos ou feridos, sendo, o destino destes últimos, provalvelmente, um serviço de assistência médico-hospitalar, englobados aqui as emergências e os hospitais em nível de internação. Segundo as condições de saída desses serviços, os pacientes podem ser classificad...