André1 estava sentado na primeira fileira do pequenino templo do centro de recuperação. Visivelmente ansioso, entre aleluias e glórias a Deus, esfregava as mãos e balançava insistentemente as pernas enquanto acompanhava as primeiras oportunidades dadas no início do culto. Dias antes, comentara comigo que o pastor achava que ele já estava pronto para dar seu testemunho e que deveria fazê-lo o quanto antes. A ocasião havia chegado. André teria que contar àquela audiência -cerca de noventa homens -a sua história de pecados, de sofrimento e de transformação. Tudo ocorreu conforme o esperado: apesar da timidez, o rapaz narrou habilidosamente a saga que o levara até o centro de recuperação e a se engajar na construção de uma nova vida.No entanto, ao mesmo tempo que se sentia honrado, André também se sentia receoso. Para ele, por um lado, o convite do pastor significava o reconhecimento de sua recuperação: estaria se tornando um exemplo para os demais -seu testemunho estaria sendo requisitado principalmente por essa razão. Mas, por outro, receber essa honraria também representava a necessidade de assumir um compromisso moral (com o pastor, com os demais alunos do centro, com sua família e com Deus) que o deixava ansioso e inquieto. "Agora eu vou ter que ser mais vigilante do que era antes, porque o diabo vai me tentar mais também, vai jogar ainda mais setas em mim". Com isso, André parecia indicar que dar seu testemunho era algo que incrementava o compromisso com o ideal de transformação que, conforme o convite que lhe fora