RESUMOObjetivo: Identificar a percepção de familiares de dependentes de álcool e outras drogas e profissionais da área da saúde sobre as concepções de autonomia e reinserção social que embasam a abordagem redução de danos. Metodologia: Estudo qualitativo, realizado com 21 participantes 11 familiares e 10 profissionais recrutados em CAPS sediados no Sul do Brasil. Os dados, coletados entre junho/2013 e maio/2014, utilizando entrevistas semiestruturadas, foram submetidos à análise temática. Resultados: Para os familiares a concepção de autonomia comporta uma dualidade: um grupo a associa com instabilidade nos relacionamentos, prejuízos no trabalho e insegurança pelo fato de a pessoa manter contato com ambientes de comercialização de drogas; outro grupo a considera uma estratégia que ajuda a pessoa dependente a aceitar o tratamento, controlar a ingesta e amenizar os sintomas da abstinência. Para os profissionais, é uma estratégia que estimula a pessoa a refletir sobre sua relação com a(s) droga(s) e tomar suas decisões. A reinserção social é considerada promissora pelos profissionais e pelas famílias, pois favorece a substituição do grupo anterior de convivência e a integração em atividades ocupacionais. Conclusão: A autonomia e a reinserção social são, sem dúvida, conceitos importantes para o trabalho com dependentes químicos, mas desde que envolva a família e uma rede de apoio social.
INTRODUÇÃO
Inserida na Política de Atenção Integral aosUsuários de álcool ou outras drogas, a abordagem Redução de Danos é uma estratégia de prevenção, controle e tratamento do uso de drogas que visa ampliar o grau de liberdade e corresponsabilidade dos dependentes químicos. Constitui-se em uma alternativa flexível de recuperação ou de aceitação da condição de vida dessas pessoas, objetivando torná-las responsáveis por suas atitudes e suas escolhas, sejam as mesmas no sentido de interromper ou continuar de forma racional o uso das substâncias (1) . Nesse sentido, representa um investimento na capacidade da pessoa de controlar a ingesta de álcool ou outras drogas e reduzir o impacto destas sobre sua saúde.Essa abordagem pressupõe o estabelecimento de vínculo com os profissionais de saúde que acompanham a trajetória construída pelo dependente e as de muitas outras pessoas que a ele se ligam, conforme expressa documento elaborado pelo Ministério da Saúde (1) . Além disso, a Redução de Danos propicia a reflexão sobre a relação com o uso das drogas e favorece o aprendizado e o cuidado de si próprio, de forma compartilhada (2) . A abordagem Redução de Danos está sustentada em uma estrutura teórica que preconiza o respeito à singularidade da pessoa dependente de drogas, partindo de suas necessidades reais. Trata-se de uma modalidade de tratamento que prevê o cuidado de forma individualizada, com ênfase na autonomia e corresponsabilidade da pessoa dependente, seja de álcool ou de outras drogas (2) , além de contemplar a preocupação com a sua reinserção social.Dessa estrutura, selecionamos especificamente os conceitos de autonomia e r...