Diante dos altos índices de sífilis no Brasil, conhecer as experiências de pessoas diante do tratamento pode auxiliar no aprimoramento das práticas assistenciais para uma resposta mais efetiva ante essa epidemia. Esta pesquisa qualitativa-descritiva analisou os relatos de pessoas curadas da sífilis sobre as suas vivências no tratamento da infecção. Participaram quatro homens e quatro mulheres usuários/as de um serviço público de saúde brasileiro. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, gravadas em áudio, cujas transcrições, na íntegra, foram analisadas em categorias temáticas. Os dados evidenciaram a valorização de si e da própria saúde como motivadores da adesão ao tratamento. A vulnerabilidade às Infecções Sexualmente Transmissíveis e a adoção de atitudes preventivas foram reavaliadas. As injeções da medicação provocaram dor física e isso foi associado ao sofrimento pela culpa em não ter se protegido. Saber da cura foi um alívio, porém restou o medo de reativação da infecção. Foi desafiador revelar o diagnóstico ao/a parceiro/a sexual e lidar com as suas reações. A desigualdade de gênero permeou as reações de recusas dos parceiros ao tratamento e ao uso do preservativo. Destaca-se, ainda, o medo do preconceito e a efetiva discriminação, assim como a necessidade do suporte social. Conclui-se que, mesmo para pessoas aderentes ao tratamento da sífilis, este pode ser permeado por diversos tipos de sofrimento emocional e que uma assistência favorável à adesão deve incluir apoio emocional, boa comunicação profissional-paciente e uso de anestésico para reduzir a dor das injeções.