Argamassas De Terra Versus Convencionais: Avaliação Do Desempenho Ambiental Considerando O Ciclo De Vida

Abstract

Foram avaliados os potenciais impactos ambientais associados a diferentes argamassas de terra sem e com estabilizantes químicos (cal hidratada e cimento Portland) e tais impactos foram comparados com aqueles apresentados pelas argamassas convencionais de cimento, cal e areia. Foi utilizada a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), com o escopo do berço ao túmulo. Foram avaliadas quatro categorias de dano: Mudanças Climáticas, Saúde Humana, Qualidade dos Ecossistemas e Depleção de Recursos foram avaliadas. Os ligantes químicos constituíram os insumos mais impactantes para a produção de argamassas de terra estabilizada, quando a ênfase foi o desempenho ambiental. A vida útil do revestimento e o transporte da terra influenciaram significativamente as categorias de Saúde Humana e Qualidade do Ecossistema. Os revestimentos de terra, mesmo quando estabilizados, podem ter ganhos ambientais de até 80% para a categoria de Mudanças Climáticas, caso tenham a mesma vida útil que revestimentos convencionais. Portanto, esses revestimentos baseados em terra crua podem constituir uma alternativa com grande potencial ambiental para mitigação dos impactos associados aos revestimentos comumente aplicados nas edificações. Ressalta-se, entretanto, a necessidade de serem adequadamente especificados na etapa de projeto, assim como de utilizarem, sempre que possível, a terra disponível localmente.

Avaliação ambiental do sistema construtivo de alvenaria de blocos de solo-cimento considerando diferentes especificações de projeto

“…Como o processo de produção dos blocos solo-cimento pode ser realizado todo de forma manual ou mecânico, foram avaliados esses dois casos. Como o cimento é quase sempre apontado na literatura (ARRIGONI et al, 2017;MARTINS et al, 2018;CALDAS et al, 2020b) como o insumo mais impactante para produção de materiais à base de terra, foram avaliados também dois tipos de cimento Portland, o CP-IIE-40 e CPV-ARI, os mais utilizados no Brasil para a produção desse material, de acordo com dados de produtores. Ao final, quatro tipos de sistema de solo-cimento foram avaliados (tanto em termos de blocos como sistemas de alvenaria): Na etapa de manutenção foi considerada a reposição dos revestimentos, sendo que para a alvenaria de blocos de solo-cimento se adotou a reposição da resina de cinco em cinco anos, o que resultou em oito reposições na vida útil da parede (40 anos).…”

“…Meliá et al ( 2014) concluíram que argamassas de terra são significantemente menos impactantes que argamassas de cimento e cal. Caldas et al (2020b) também chegaram a mesma conclusão, no entanto, verificaram que a vida útil do revestimento de terra pode influenciar significativamente os impactos ambientais do ciclo de vida do revestimento. Martins et al (2018) mostraram que uma parede monolítica de solo-cimento é mais vantajosa que uma de alvenaria de blocos cerâmicos estruturais.…”

“…Esse último fator pode ser comprometido, principalmente em locais muito adensados (CORDEIRO et al, 2019), e nessa ótica, haverá a necessidade de transportar solos de locais mais distantes, necessitando de veículos especializados, normalmente caminhões. Caldas et al (2020b) verificaram que em alguns casos e para algumas categorias de impacto, como Mudanças Climáticas, é mais vantajoso utilizar solos de melhor qualidade de locais mais distantes do que usar um maior teor de estabilizante químico (cimento Portland ou cal hidratada) para a melhoria das propriedades de solos locais de pior qualidade.…”

“…Assim, a ACV também tem sido aplicada para estudos de materiais e sistemas à base de terra, como: argamassas de terra (MELIÁ et al, 2014;CALDAS et al, 2020b), adobe (CHRISTOFOROU et al, 2016), blocos de solo-cimento (CUNHA, 2016;MARCELINO-SADABAA et al, 2017), terra comprimida (ARRIGONI et al, 2017SERRANO et al, 2012), taipa de pilão (MIRANDA; YUBA, 2016), compósitos de solo-cimento (MARTINS et al, 2018), concreto de terra auto adensável (OUELLET-PLAMONDON; HABERT, 2016), e Cob i (BEN-ALO et al, 2019). Em todos esses estudos os materiais à base de terra quando comparados com convencionais, como concreto e cerâmica, se mostraram com melhor competitividade ambiental.…”

Thermal-Energy Analysis and Life Cycle GHG Emissions Assessments of Innovative Earth-Based Bamboo Plastering Mortars

“…Santos et al [41] reviewed existing literature that addresses the LCA of cementitious mortars, highlighting the existence of only few studies for earth mortars. By using LCA, Caldas et al [42] verified that earth plasters could present gains of up to 80% for the global warming impact category when compared with conventional mortars. Both of these studies focus only on the production stage, maintenance, and end-of-life of mortars.…”