Em meio ao conturbado contexto político de fi ns do século XVIII, um número considerável de luso-americanos embarcaram com destino à Europa, a fi m de cursarem Filosofi a Natural 3 e Teológica, Medicina, Direito e Matemática na Universidade de Coimbra, então reestruturada por Sebastião José de Carvalho e Melo. Em meio a este marcante processo para o período, os intelectuais, assim que formados, passavam a participar das políticas públicas, ocupando cargos burocráticos de relevo, atuando em instituições decisivas para a economia imperial portuguesa, além de liderarem expedições fi losófi co-naturais pelo interior das colônias. A conjuntura destes homens, que tinham Coimbra por meta, todavia, foi compartilhada por outros destinos. Uma parcela pouco conhecida acabou preferindo se encaminhar à região do Languedoc francês, a fi m de cursar Medicina na secular Universidade de Montpellier.Esta nota de pesquisa buscará demonstrar como as ideias médicas vigentes na Europa do século XVIII acerca da erisipela, varíola e tuberculose, ao serem relacionadas com as concepções médicas de corpo e saúde da época, exigem uma compreensão global das teorias que infl uíam nestas concepções. A historiografi a destas doenças compõe elemento teórico singular no auxílio à capacidade crítica da leitura documental.Partimos do suposto que Portugal não estava atrasado na corrida das ciências naturais setecentistas (Cardozo, 1971;Moraes et al., 2012). A análise das fontes é feita a partir de uma perspectiva atualizada do Iluminismo, o que nos permite observar como estes ilustrados portugueses construíram concepções acerca das referidas doenças. Este fenômeno acadêmico, que se inicia na metrópole portuguesa, estava integrado a uma rede de conhecimentos acerca do mundo natural. Uma dinâmica que possuía, como principal meta, a prestação de Notas de Pesquisa Doutores da devassa: sedição e teses médicas de luso-brasileiros em Montpellier