As (não) convocações de mulheres para cargos de liderança nas comissões técnicas no Handebol brasileiro nos anos de 2014-2020

Abstract

O objetivo do estudo foi quantificar as convocações de mulheres para os cargos de liderança nas comissões técnicas das seleções nacionais masculinas e femininas de handebol. Foram analisadas as convocações oficiais entre os anos de 2014 e 2020 e verificadas quantas vezes homens e mulheres foram convocados para os cargos do estudo. Temos em um total de 58 convocações, não houve convocação para treinadora principal, apenas uma convocação para auxiliar técnica e 18 convocações para supervisora no feminino. No masculino não houve convocação de mulheres para os cargos estudados. Concluímos que o cenário do handebol de alto nível brasileiro é hegemonicamente comandado por homens, refletindo as desigualdades de gênero no campo profissional esportivo.

A representatividade de treinadoras do sexo feminino em uma competição oficial

“…Por apresentar dados quantitativos e uma fotografia (visão geral da atual realidade), investigações qualitativas tornam-se necessárias para proporcionar uma melhor compreensão sobre o fenômeno. Apontamos também que, embora venha comprovado por meio dos dados coletados, o número de mulheres em comissões técnicas mostra-se discrepante dependendo da modalidade esportiva, como demonstrado neste estudo, porém em comparação com estudos internacionais a participação das mulheres em cargos técnicos e de gestão não necessariamente afiança alguma superação em relação aos últimos anos (Shaw & Frisby, 2006, Silva, Jacó & Krahenbühl, 2021.…”

“…Internacionalmente, há pesquisas envolvendo o estudo de gênero e a representatividade em comissões técnicas de clubes esportivos, profissionais ou não, e também, em programas esportivos em universidades, demonstrando grande discrepância entre os resultados observados coletados envolvendo a diferença entre a presença de homens e mulheres (Fasting & Pfister, 2000, Cunningham & Sagas 2002Shaw & Frisby, 2006, Kilty, 2006, Reade, Rodgers & Norman, 2009, Kamphoff, Armentrout & Driska, 2010, Norman, 2010, Peachey & Burton, 2011, Burton, 2015, Fasting, Sand & Nordstrand, 2017. A nível nacional, algumas pesquisas recentes envolvendo algumas modalidades esportivas, como o caso do Handebol (Silva, Jacó & Krahenbühl, 2021) e Futebol (Passero et al, 2020) e Basquetebol (Passero et al, 2019) destacam-se, além de estudos envolvendo mulheres e o esporte de maneira geral (Goellner, 2005, 2007, Ferreira et al, 2013, Balardin et al, 2018, Ramos, 2018, Torga, 2019 (Paraná Esporte, 2021). Durante a coleta de dados, todos os cargos da Secretaria do Esporte e do Turismoórgão responsável pela competição na épocaeram ocupados por homens (Secretaria do Esporte e do Turismo, 2018).…”

“…Ao realizar análise individualizada nas comissões técnicas de cada esporte na modalidade masculina, os achados do estudo apontaram que: no Basquetebol, das 53 equipes, 45 delas (85%) tinham homens como treinadores e apenas 8 equipes (15%) eram lideradas por uma mulher; Futsal dos 190 times, 183 times (95%) eram treinados por homens, enquanto 7 equipes (5%) eram treinadas por mulheres; Futebol, dos 128 times, encontramos 122 (96%) treinadores e apenas 6 (4%) treinadoras; Fonte: Os autores(2021).Já em relação a análise individualizada realizada nas comissões técnicas de cada esporte na modalidade feminina, os achados do estudo indicaram novamente uma baixa representatividade de mulheres como treinadoras. No Basquetebol,…”

Mulheres nos cargos de liderança no esporte: uma revisão da literatura

“…Quando as análises são por modalidade, as que aparecem nos estudos são basquetebol (Passero et al, 2019;Jaime et al, 2021), Canoagem (Amaral et al, 2021), Futebol (Passero et al, 2020;Jaime et al, 2021;Amaral et al, 2021), Futsal (Jaime et al, 2021), Ginástica Rítmica (Amaral et al, 2021), Remo (Amaral et al, 2021), Voleibol (Jaime et al, 2021) e Handebol (Jaime et al, 2021;Silva;Jacó;Krahenhbühl, 2021). De maneira geral, em todas as modalidades estudadas, tanto nas categorias masculinas quanto nas femininas, a presença de homens como treinadores é maior do que das mulheres, e acentuada em categorias masculinas, como por exemplo, no handebol, em que não há presença de mulheres nas comissões técnicas das seleções nacionais masculinas (Silva;Jacó;Krahenhbühl, 2021). Quando estudadas as equipes femininas, observamos que há um porcentual maior de homens em cargos de comissão técnica (treinador principal e auxiliar) no basquetebol (Passero et al, 2019) e também no futebol (Passero et al, 2020).…”

“…Assim, temos que as mulheres ainda são minoria em cargos de liderança e comando esportivo, tais como treinadoras esportivas e auxiliares técnicas (Ferreira, Salles;Mourão, 2015), sendo observado o maior número de homens comandando equipes masculinas e femininas (Passero et al, 2020;Jacó;Krahenhbühl, 2021), e também nos cargos de liderança como gestora nas instituições esportivas (Acosta;Carpenter, 2012;Burton, 2015;Walker;Bopp;Sagas, 2011). Além de ser um espaço majoritariamente ocupado por homens, observa-se que quanto mais próximo do alto rendimento menor a participação de mulheres como treinadoras esportivas (Pfister, 2003).…”