RESumoO objetivo deste trabalho foi relatar o caso de uma criança que apresenta características autísticas e sofreu privação de estímulos por negligência materna. O acompanhamento da criança foi feito pela equipe da Clínica de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP). A criança era do gênero masculino e tinha dois anos e 10 meses, na época da avaliação fonoaudiológica. O diagnóstico foi distúrbio de linguagem como parte de um transtorno global do desenvolvimento e foi indicada terapia fonoaudiológica. Devido a características de comprometimento do desenvolvimento global e nutricional, a criança também foi encaminhada a uma instituição especializada em autismo e a atendimento médico. Com o início da terapia fonoaudiológica, a criança apresentou aumento de contato ocular, aceitação de contato corporal, maior interesse pelos objetos, iniciação de vocalizações e diminuição dos movimentos repetitivos; porém, o resultado terapêutico foi comprometido devido à problemática envolvida. Todo o trabalho foi realizado em conjunto com as creches que a criança freqüentou e com os órgãos assistenciais relevantes, já que foi feita uma denúncia formal da negligência materna. O intuito deste relato de caso é demonstrar que, em casos graves como este, é necessária uma intervenção global, com a atuação de diversos profissionais da saúde, a fim de proporcionar o desenvolvimento em todos os aspectos comprometidos. O apoio da família é fator determinante no desenvolvimento da criança e, por isso, não se sabe até que ponto a manutenção das características autísticas e os comportamentos apresentados pela criança estão sendo determinados pela privação sensorial que esta sofre ou pela severidade do quadro autístico em si, devendo o trabalho de investigação e de intervenção ter continuidade.Descritores: Transtorno autístico; Privação sensorial; Maus-tratos infantis; Transtornos do desenvolvimento da linguagem
IntRoDuçãoO desenvolvimento da linguagem se dá durante os primeiros anos de vida e a própria linguagem em si, em todos os seus aspectos, acompanha praticamente todas as atividades do ser humano ao longo de sua vida. O fato da aquisição da linguagem não requerer esforço especial pode parecer uma observação trivial, mas é bem verdade que, em toda criança que vive em condições normais, tal aquisição é esperada. Este aspecto natural da linguagem é questionado quando a criança demora a falar. Quando se refere ao período pré-lingüístico do desenvolvimento, o que pode surpreender e sobre o que se questiona é, por um lado, a maneira quase perfeita como a mãe e a criança se compreendem e, por outro, a eficácia com que a criança, desde os primeiros meses de vida, transmite informações sobre seus estados fisiológicos, afetivos e cognitivos. A linguagem virá enxertar-se progressivamente nesta comunicação precoce, eficaz e segura; enfim, quando a criança começa a utilizar as primeiras expressões que podem ser consideradas como palavras, ela já adquiriu um domínio incontestável da comunicação (1) . A capacidade da criança para o...