A ação empreendedora está sendo bastante valorizada no atual modelo econômico, político e social, porém, poucos estudos consideram os empreendedores na condição de trabalhadores que de fato são. Em razão desta situação, o objetivo deste estudo é descrever a organização do trabalho dos empreendedores, privilegiando a compreensão dos aspectos subjetivos mobilizados por eles a partir de situações concretas de trabalho, tendo como abordagem teórico-metodológica a Psicodinâmica do Trabalho. Foram realizadas quatro sessões coletivas com um grupo de oito empreendedores, com duração total aproximada de doze horas. O instrumento de coleta de dados foi um questionário semiestruturado. As sessões foram gravadas em vídeo, transcritas e depois analisadas utilizando a técnica de Análise de Conteúdo. Pôde-se constatar que a forma de organização do trabalho do empreendedor se diferencia da maioria dos trabalhadores, sendo caracterizada por uma rotina de imprevistos e preparação, requerendo uma maior capacidade de planejamento e flexibilidade na realização de suas atividades laborais. Em geral, os empreendedores possuem uma agenda diária cheia de compromissos, o que remete a uma carga de trabalho intensa. Contudo, eles possuem o poder de fazer modificações na organização do trabalho, em suas atividades e horários, proporcionando maior liberdade e autonomia no cotidiano laboral. Constatou-se que, ao criar o próprio negócio, os empreendedores tornam-se agentes ativos na modelagem tanto do próprio trabalho quanto de suas organizações, propiciando melhor descarga psíquica. Contudo, a liberdade atribuída ao trabalho dos empreendedores é limitada pela burocracia governamental, pelas relações socioprofissionais e pelo mercado de trabalho.