INTRODUÇÃOEm Portugal deixámos de poder ficar indiferentes à temática dos abusos sexuais de crianças desde que o mesmo passou a ser um assunto comum nos noticiários e nos jornais, sobretudo com o caso das crianças abusadas na Casa Pia de Lisboa, que se tornou público em Novembro de 2002. Desde então o tema nunca mais foi olhado da mesma forma, nem nunca mais saiu das mentes dos portugueses por muitas e diversas razões. Contudo, nem sempre a informação veiculada pelos media foi verdadeiramente informativa e formativa sobre este tópico. A informação que foi passada fez com que a grande maioria dos cidadãos portugueses se sentissem, por um lado, à margem deste tipo de problemas (como se as suas crianças estivessem "imunes" a esta pandemia) e, por outro, incapazes fase à dimensão deste tipo de crime. Nem uma coisa é verdade, nem a outra.Acreditamos que o papel da psicologia e, neste caso concreto, da psicologia comunitária, é, também, o de facilitar a passagem de informação real sobre as problemáticas que afectam a comunidade e as formas de a ajudar a resolvê-las. Assim, propomo-nos, com este artigo, abordar as questões dos abusos sexuais de crianças numa perspectiva de facilitar informação teoricamente sustentada e sugestões para o desenvolvimento de práticas preventivas. Pois, ao contrário do que acontece em muitos países pelo mundo, o facto de termos quebrado algo, o tabu dos abusos sexuais de crianças, com a mediatização dos casos referidos anteriormente, esse facto não propiciou um aumento proporcional do desenvolvimento de projectos e programas para prevenir o problema dos abusos sexuais de crianças.A grande maioria dos investigadores na área tem como consenso a premissa de que este é o tipo de crime que não pode ser abordado numa perspectiva individual, as medidas para o eliminar ou reduzir têm de ser de âmbito comunitário e numa perspectiva macro. Contudo, porque este tipo de violência envolve a palavra "sexo" é um problema particularmente difícil de a comunidade o abordar (Wurtele, 2009), sendo este facto agravado pelo desconhecimento que as pessoas têm, em geral, sobre a realidade dos abusos sexuais, tendem a lidar com as situações de ASC com secretismo e recorrendo a abordagens individualizadas que não permitem transformar e/ou minimizar o nível do problema.
EXTENSÃO DO PROBLEMA DOS ABUSOS SEXUAIS DE CRIANÇASUma das formas mais comuns de chamarmos a atenção para um problema é apresentarmos 411