Clínica da toxicomania: uma expressão melancólica?

A Psicodinâmica Do Dependente De Substâncias Psicoativas

“…Considerando a relação particular entre indivíduo e substância, Pimenta (12) colocam que a toxicomania e a melancolia bebem da mesma fonte metapsicológica ao analisar um paciente dito em um primeiro momento como dependente químico e a medida que o tratamento avança percebe-se uma tristeza e uma posição melancólica, que leva a uma expectativa de castigo e a depressão. Nesta mesma relação entre a toxicomania e a melancolia, Caravelli (19) relata a droga como um recurso, matéria--prima que, apesar da inadequação, faz valer sua condição anestésica, no qual o sujeito atribui a ela, a função de selar seu vazio, coagular sua hemorragia narcísica e aliviar sua dor de existir.…”

“…Estas ideias podem ser embasadas pelo conceito de "moldura vazia" citada por Lambotte (1997) citado por Caravelli, (19) na qual o bebê não se sente o objeto de desejo da figura materna, assim esse olhar vazio terá a condição de dar ao sujeito um estado de existência e não de atribuição, fazendo com que este carregue uma marca identificatória com o nada. Freud (1926/1992) citado por Pimenta (12) se refere ao conceito de "moldura vazia" como uma situação de desamparo, na qual o bebê ainda é absolutamente dependente de sua figura materna para sobreviver, mas se encontra confrontado com uma ausência materna, fazendo com que haja a perda de seu objeto de amor mesmo sem a sua simbolização.…”

“…Pimenta (12) afirma que essa situação de desamparo irá acompanhar o sujeito por toda a sua vida e é para lidar com esta, que surge a substância psicoativa. Em virtude disso, o toxicômano enfrenta dificuldades ao encarar a falta, assim apresenta uma maneira intensa de se relacionar com seus objetos, não deixando espaço à falta e à perda, passando de um objeto de dependência a outro.…”

“…É nesta falta que a droga entra. (12) Além disso, Winnicott citado por Kessler (14) ressalta que as figuras maternas não suficientemente boas gerariam um estado de crônica falta, esta que seria oceânica e jamais saciável. No que tange a figura paterna Costa (13) afirma que a figura paterna assinala seu lugar como significativo e posiciona o lugar da figura materna e do filho.…”

“…Assim como propôs Freud citado por Pimenta (12) refere que a toxicomania e a melancolia bebem da mesma fonte metapsicológica. Um paciente que se apresenta, em um primeiro momento, como "dependente químico", à medida que a clínica avança, se pode perceber que sob a máscara da toxicomania, repousa um sujeito que padece de uma tristeza e de uma posição melancólica, que seria uma posição profundamente dolorosa, com perda de interesse pelo mundo exterior, capacidade de amar e inibição do amor próprio.…”