Assinatura: AGRADECIMENTOS A gratidão é um sentimento que expressa reconhecimento a alguém que nos tenha feito um bem. E faz mais bem a quem a sente do que a quem a motivou. Recebe-se um bem e deseja-se o bem a quem o possibilitou, às vezes, sem notá-lo. E quanto menos o notar, mais autêntico ele terá sido. Agradeço aos colegas, funcionários e professores do Instituto de Psicologia (IP) da USP, em especial à Vera Paiva, que confiou em mim e no meu trabalho. Agradeço a meu imprescindível orientador, o Zeca, que aceitou orientar-me tão simplesmente porque eu assim precisava. Fez, e faz, o bem "puro sangue".Também agradeço à Tatiana Lionço, ao Galeão, à Juracy Toneli, à Karla Bessa e ao Bernardo por dedicarem-se a me oferecer sugestões. Agradeço a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República por me confiarem os dados utilizados nesta pesquisa. Obrigado à Celi, por suportar os contorcionismos que tive que realizar em minha jornada de trabalho e à Sirlei, pelo estímulo. Também agradeço aos amigos da militância e aos do bar, pelas conversas, dicas e torcida. Agradeço à Cláudia e ao Thomaz pela ajuda na procura por orientação. E agradeço a todos que sempre estão comigo, onde quer que minha mente e coração se arrisquem. EPÍGRAFE Geni e o Zepelim De tudo que é nego torto Do mangue e do cais do porto Ela já foi namorada O seu corpo é dos errantes Dos cegos, dos retirantes É de quem não tem mais nada Dá-se assim desde menina Na garagem, na cantina Atrás do tanque, no mato É a rainha dos detentos Das loucas, dos lazarentos Dos moleques do internato E também vai amiúde Com os velhinhos sem saúde E as viúvas sem porvir Ela é um poço de bondade E é por isso que a cidade Vive sempre a repetir Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de cuspir! Ela dá pra qualquer um! Maldita Geni! (Holanda, 1978).PREFÁCIO Por volta do fim dos anos 1970 e início dos 1980, Sayonara retornou de Paris portando uma expressiva soma em dinheiro, angariado merecidamente no trottoir do Bois de Bologne. Comprou uma boa casa em um bairro de classe média em São Paulo e acomodou sua mãe e irmãos que viviam em grande penúria. Na sala da frente da residência, abriu um salão de beleza onde iniciou-se nossa amizade. Logo descobrimos inúmeras afinidades, entre elas, o gosto pelo tango. Numa noite a convidei para irmos a uma tangueria que tinha sido inaugurada havia pouco. O porteiro do lugar não acreditava no que via: um jovem rapaz acompanhado de uma travesti. Após nos encararmos ostensivamente por longos segundos, ele permitiu nossa entrada mas abaixou muito a luz do ambiente para que os clientes da casa não nos vissem com nitidez. Quando saímos de lá, rumo a nossas casas, eu perguntei à Sayonara: -Mona, cê 'quendô o bapho cu ocó?!, que traduzido do pajubá (espécie de código linguístico utilizado pelas travestis para preservarem sua comunicação dos "não iniciados") significa algo como "Mulher, você notou a tensão com o porteiro?". Ela, então, com uma resignação desconcertante disse: -Claro, não é em todo lugar que...