Apresentam-se resultados de pesquisa cujo objetivo foi analisar o que falavam e como agiam menino(a)s pobres e/ou negro(a)s acerca do tratamento desigual, modelado por discriminações através de chacotas, xingamentos, apelidos depreciativos, separações, entre outros, vivenciados na escola. Essas crianças eram aluno(a)s do 5º ano do ensino fundamental, em uma escola pública localizada em cidade de médio porte, no interior do Estado de São Paulo. Visou-se a empreender uma análise das práticas de diferenciação de classe e raciais que hierarquizam, discriminam e excluem determinadas crianças, realizadas por adultos e/ou pelas próprias crianças. O estudo, do tipo etnográfico, fez uso de relatos, de questionário sobre denominação e classificação de cor/raça, respondido pelas crianças em sala de aula, levantamento socioeconômico, observações das relações vivenciadas em diferentes ambientes da escola e de entrevista semiestruturada com as crianças e professora. Entre outros resultados, confirmou-se que as crianças negras, pretas e pardas, pobres e com história de fracasso escolar sofrem maiores discriminações na escola, por parte da professora e das demais crianças. Além disso, constatou-se que mesmo entre aquelas que são pobres e/ou negras, ocorre a construção de fronteiras para a distinção que cada um faz de si em relação aos demais. Portanto, a pesquisa proporcionou reconhecer a diversidade de posições em relação ao reconhecimento que fazem quanto a sua identificação de raça e classe. Ao verificarmos como as ações das crianças são mediadas pelas práticas educativas escolares, defendemos que em tais espaços sejam constituídas as condições de possibilidade para que elas possam falar-e serem ouvidas-sobre as suas dúvidas e desejos, sobre o que fazem e por que razões o fazem, nas relações entre elas. Enfim, proporcionar emergir suas curiosidades, imaginação e inventividade para, quem sabe, ver irromper algo novo em nosso mundo que prima pelo inacabamento.