O modernismo, no começo do século XX, trouxe como tema os negros e os grupos subalternos para a literatura brasileira, partindo de um viés político e ideológico. A necessidade de criar um novo projeto literário condicionou os escritores a comporem um repertório que rompesse com o paradigma elitista do fazer literário. Lobivar Matos, poeta mato-grossense, endossou o coro de modernistas brasileiros que modificou a nossa literatura, inscrevendo o cotidiano dos negros por meio de sua criação poética. Os negros, na poesia de Lobivar, são trazidos como sujeitos que estão à margem da sociedade, que sofrem a negação de direitos básicos de sobrevivência e de humanidade. No entanto, em meio à degradação tanto humana como espacial, estes negros surgem (ou ressurgem) enquanto sujeitos históricos, em construções imagéticas que remetem a um devir melhor, a uma conquista de espaço e de vida que apontam para o resgate da oralidade e dos costumes culturais desses negros. Esse protagonismo se contrapôs a lógica da poesia que imperava em Mato Grosso naquela época, que ainda matinha relações viscerais com o romantismo e o parnasianismo. Portanto, as vozes negras em Lobivar Matos estão emprenhadas de rebeldia e resistência, pois são ecos de uma comunidade historicamente silenciada. As negras, as crianças, os bairros periféricos e os pretos velhos são personagens que se deslocam da subalternidade para estruturarem o centro da poesia de Lobivar, que se reveste de resistência e luta pela igualdade. A presente reflexão propõe uma leitura dos poemas desse escritor buscando as relações entre negritude, subalternidade e resistência.