Cronologia e mudança cultural na RDS Amanã (Amazonas): um estudo sobre a fase Caiambé da Tradição Borda Incisa

Abstract

A tradição Borda Incisa envolve um debate intenso entre os pesquisadores por uma série de motivos, dentre os quais, por suas cerâmicas apresentarem uma grande variabilidade estilística e morfológica, devido sua ampla distribuição geográfica e sua associação aos contextos de terra preta. Na Amazônia Central o período relacionado às ocupações Borda Incisa é considerado de adensamento populacional e quando as mudanças nas paisagens são mais intensas, associadas aos falantes de línguas Arawak que teriam desenvolvido um sistema regional multiétnico com circulação de cerâmicas e compartilhamento de uma mesma cosmologia baseada na ocupação de aldeias circulares. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, área focal dessa pesquisa, é uma unidade de conservação localizada na porção central do Estado do Amazonas. O objetivo da dissertação é contribuir para a construção de uma história cultural do Lago Amanã e a compreensão de sua antiga e intensa ocupação pré-colonial. A fase Caiambé é o recorte de análise, a partir do refinamento de suas características estilísticas e contextuais, procura-se compreender seus significados no quadro cronológico da Amazônia Central e suas relações com os complexos culturais anteriores e posteriores a ela. Através de escavações, datações e tratamento do material cerâmico, buscou-se oferecer refinamento da cronologia de ocupação. Alguns dos resultados apresentados são: contemporaneidade de assentamentos, caracterização de sítios com diferentes funções e maior caracterização da tecnologia de produção cerâmica. Com base nessas informações sugere-se a fase Caiambé no lago Amanã representa o ápice da ocupação integral de um território, com a formação de diferentes aldeias e espaços públicos e rituais.

As Comunidades Ribeirinhas Convidam Para Colaboração No Médio Rio Solimões - Amazônia

“…Esse engajamento da Igreja em prol das famílias e para a melhoria da transformação social está relacionado com as ideias da Teologia da Libertação (BOFF; BOFF, 2001), que surge no contexto latino-americano como uma linha de pensamento e atuação da Igreja no combate à desigualdade social, ao êxodo rural e ao subdesenvolvimento (LOWY, 1989). Nesse contexto de reorganização das famílias, com a queda da produção da borracha, não podemos desconsiderar o processo de alianças e redes de cooperação entre os povos indígenas ao longo do tempo (BELLETTI, 2016;GOMES, 2015;LOPES, 2018), que também se faz presente no modo de vida ribeirinho (MACHADO, 2014).…”

“…A retomada da pesquisa arqueológica na região, em 2001 10 , esteve associada ao interesse da comunidade de Boa Esperança em conhecer mais os vasilhames cerâmicos que afloravam em seu território (COSTA, 2012;GOMES, 2015), nesse processo de se tornar comunitário. Especialmente abrindo a possibilidade do desenvolvimento de um turismo de base comunitária, o que levou os/as primeiros/as pesquisadores/as a conhecerem o local.…”

“…Os territórios dessas comunidades são repletos de muitos sítios arqueológicos identificados pela nossa equipe (TAMANAHA et al, 2019), entretanto, possuem uma anterioridade de relações com a materialidade, que antecede o nosso olhar especializado (SILVA, 2022, p. 181), que nos possibilitou a realização de uma arqueologia da memória e do imaginário (BEZERRA, 2018). Dessa forma, nossas histórias de quase três mil anos antes do presente (COSTA, 2012;GOMES, 2015) interagem, justapõem-se, friccionam-se facilmente com as histórias produzidas pela experiência de vida e memórias desses sujeitos históricos, ao mobilizarem as narrativas sobre os potes dos antigos, os alguidares de índios, os estranhamentos entre o tempo da longa duração e o tempo cíclico da vida, os potes de ouro, entre muitas outras leituras para se referirem aos mesmos materiais que associamos a diferentes categorias arqueológicas.…”

“…A arqueologia tem crescido significativamente nos últimos anos na região do Médio Solimões, Amazonas, principalmente pela atuação do Laboratório de Arqueologia do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM) BELLETTI, 2016;CASSINO et al, 2018;COSTA et al, 2012COSTA et al, , 2012FUR-QUIM, 2014;GOMES, 2021;2016, 2015GOMES, SANTOS, COSTA, 2014;LIMA et al, 2021;LOPES, 2021;entre outros), que tem colocado a arqueologia local nos principais debates internacionais. Esses trabalhos, além de entenderem o passado local, possuem o desafio de implantar estratégias de gestão para promoção do patrimônio arqueológico com as comunidades ribeirinhas que habitam as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, com a ampla tarefa da sustentabilidade.…”

Abordagens educacionais para uma arqueologia parente com comunidades tradicionais da RDS Amanã e da FLONA Tefé, Amazonas

“…Em julho de 2017, logo após ter ingressado no Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP), eu chegava à comunidade Boa Esperança, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã (RDS Amanã), no Lago Amanã, Amazonas, cogerenciada pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM). Já conhecia essa região por meio da leitura de alguns trabalhos (BELLETTI, 2015;GOMES, 2015GOMES, , 2016; entre outros), mas principalmente pelos relatos, pois diferentes colegas tinham compartilhado comigo suas experiências de interação com a população da região. Encontrei um território carregado de memórias coletivas (HALBWACHS, 2003) sobre suas gentes, era um lugar estranho e conhecido, mesmo nunca tendo estado presente lá até então.…”