INTRODUÇÃO
No Nordeste brasileiro, a praia de Ponta Negra, em Natal (RN), é um destino turístico balnear bastante procurado por homens europeus. Durante as suas estadias, é muito frequente o envolvimento com mulheres brasileiras que aí vão conhecendo, sobretudo no contexto do sexo transacional (programas), de onde resultam múltiplas configurações passionais transnacionais 1 . Os vínculos que europeus e mulheres locais estabelecem não representam, inevitavelmente, meros episódios fugazes nas experiências de lazer dos primeiros. Com alguma frequência, a partilha de intimidade entre uns e outras sobrevive à relativa efemeridade da estadia turística, estende-se flexivelmente no tempo e no espaço e vai ganhando alguma espessura social. Daqui emergem formações conjugais associadas a um amplo feixe de mobilidades no âmbito do qual se (re)definem relações com diferentes lugares e pertenças geográficas. É justamente na interseção entre a conjugalidade e os deslocamentos no espaço transatlântico que centro a análise, tentando compreender como aí se produzem, em simultâneo, vinculações variáveis e flexíveis de intimidade, residência e mesmo de cidadania. A flexibilidade como marca de processos transnacionais intensificados pelo chamado capitalismo tardio é uma ideia bastante explorada por Ong (1999Ong ( , 2006, sobretudo por via do conceito de "cidahttp://dx