Cultura hacker e educação: percepções dos hackers sobre a vivência de elementos de sua cultura nas escolas

Abstract

Partindo da compreensão de que vivemos em sociedades em que as possibilidades e as opressões, em alguma medida, estão relacionadas às dinâmicas tecnológicas, e conscientes da necessidade de os processos educativos colocarem tais dinâmicas em perspectiva, neste artigo voltamos nosso olhar para os hackers e a percepção que possuem sobre a possibilidade de vivência de elementos da sua cultura nas escolas. Compreender quais elementos da cultura hacker, na percepção dos hackers de distintos movimentos e países, deveriam fazer parte do ambiente escolar é o objetivo principal deste trabalho. Um questionário misto, criado para uma pesquisa mais abrangente, sobre educação hacker e empoderamento, foi distribuído através de diversas listas de e-mail para comunidades de distintas vertentes e países. Neste artigo, focados no objetivo proposto, voltamos nosso olhar à análise de um único item dissertativo desse questionário: ‘De acordo com sua experiência, quais são as características da cultura hacker que podem ser levadas para as escolas ou universidades?’. Foram analisadas as respostas de 64 hackers. Através da construção de uma nuvem de palavras, destacamos os termos mais recorrentes e revisitamos cada uma dessas respostas, buscando aprofundar seus significados e relações, bem como construindo diálogo com um referencial teórico sobre educação hacker e pedagogia crítica. Os resultados revelam cinco aspectos: 1) lógica de compartilhamento aberto; 2) ecossistema comunitário de colaboração; 3) aprendizagem prática, valorizando os erros; 4) valorização das tecnologias livres e problematização das implicações sociais e humanas das tecnologias; e 5) respeito e valorização das curiosidades, somados ao estímulo do pensamento crítico.

“Ética Hacker”e Educação: Quais as suas Aproximações?

“…A partir da análise dos textos, foram construídas categorias com base nos conteúdos mais comumente apontados e discutidos nos estudos, sendo estas: (A) A tecnologia nos espaços educativos Sampaio, 2021;Aragão, Alves, Menezes, 2020;Aragão, Brunet, Petto, 2021;Candian, Bruno, 2021;Espindola, Cerny, Xavier, 2020;Sampaio, 2021]; (B) "Ética Hacker" e seu lugar na educação [Candian;Bruno, 2021;Aguado, Canovas, 2021;Sampaio, 2011]; e (C) Práticas educativas na Ética Hacker Aguado, Canovas, 2021;Sampaio, 202;Pinheiro, Menezes, Cordeiro, 2021;Trivinho, Galvadão, 2020] A primeira categoria refere-se à trabalhos que tem como eixo central o uso da tecnologia na educação, seja em um contexto formal ou informal, embora eles não necessariamente tenham trazidos conceitos explícitos da "Ética Hacker". Percebe-se que o acesso às tecnologias de informação e comunicação cresceu bastante ao longo dos últimos anos para os mais diversos estratos da sociedade, ultrapassando a parcela da população jovem economicamente privilegiada .…”

“…É importante destacar que a educação orientada pelos ideais do movimento Hacker não se apresenta sempre nos moldes da educação formal como escolas e universidades, muito pelo contrário, se apresenta em grande parte de maneira informal, como, por exemplo, os chamados Hackerspace [Aguado e Canovas, 2021]. Esses espaços promovem atividades e oficinas que disseminam o aprendizado livre e colaborativo sobre os mais diversos tópicos englobando a tecnologia, do uso de ferramentas até os seus efeitos na esfera social e educativa [Candian e Bruno, 2021].…”

“…Apesar da literatura sobre a "Ética Hacker" na educação não pressupor necessariamente o uso ou implementação de tecnologias digitais, não é possível negar que a sociedade contemporânea e seus demais problemas exigem uma dinâmica tecnológica. Surge, assim, a necessidade da escola também estar imersa nessa relação com as tecnologias digitais de informação e comunicação possibilitando o desenvolvimento de um pensamento crítico neste complexo contexto sociocultural e econômico [Aguado, Canovas, 2021].…”

“…Outro projeto que merece destaque por buscar o desenvolvimento do ideal colaborativo como um meio para o desenvolvimento de habilidades que possibilite a contribuição para a sociedade é o "Jovem Hacker", proposto como uma ação extensionista do Instituto Federal de São Paulo na qual os alunos passam por um processo de aprendizagem da linguagem de programação Python e finalizam com o desenvolvimento de um projeto colaborativo social [Aguado e Canovas, 2021]. É importante ressaltar como este projeto tem como objetivo salientar a necessidade da aplicação de conhecimentos adquiridos e habilidades desenvolvidas na linguagem de programação de modo a colaborar com a comunidade através da criação de um projeto.…”