A presente tese tem como objetivo compreender o modo como a experiência musical pode contribuir, em termos de tratamento, para a chamada clínica do traumáticocampo que exige modelos de intervenções clínicas não convencionais que possibilitem a criação de condições de alterações simbólico-subjetivas, sociais e políticas no sujeito acometido pelo trauma. Seguindo a hipótese de que o choque provocado por um acontecimento violento tem o poder de exilar o sujeito do circuito da pulsão invocante, discutiremos a contribuição que uma oficina de composição de canções tem a oferecer para a transformação desse impacto traumático em narrativa.A partir da constatação de que a subtaneidade desse inesperado produz um fenômeno típico -o silenciamento do sujeito -, constatamos que nosso dispositivo de intervenção possa vir a possibilitar aos sujeitos afetados por experiências de violência e de desenraizamento, o compartilhamento e a reintegração de suas partes exiladas no momento do traumatismo. Nesse sentido, a narrativa da própria história que vira letra de canção e, posteriormente, um canto de lamento coletivo, faz existir um Outro para o qual a palavra violenta, que transborda a narrativa, possa ser endereçada.