'Eu tenho que me reeducar': discursos normativos e práticas alimentares relacionadas à perda de peso em mulheres de camadas populares 'I ought to reeducate myself': normative discourses and eating practices related to weight loss in women of the popular strata
ResumoEste artigo propõe uma ref lexão sobre como os discursos normativos relacionados à alimentação e saúde são apropriados por mulheres que apresentam excesso de peso, considerando a centralidade destes discursos nas orientações e ações de educação e reeducação alimentar. As práticas educativas em alimentação estão historicamente assentadas na lógica do risco, que, por sua vez, rege o discurso do campo da saúde, o que inclui as abordagens e intervenções de controle da obesidade. Com base em uma pesquisa etnográfica realizada com mulheres de camadas populares atendidas em um centro de saúde do Rio de Janeiro, as reflexões aqui desenvolvidas problematizam a dificuldade de conectar informações pouco criteriosas a um processo de reflexão e de cuidado de si. A ideia de racionalidade de sujeitos autônomos informados sobre o "valor nutricional" dos alimentos ou do "risco de adoecimento" se traduz em orientações que apresentam resultados limitados. As noções de educação e reeducação alimentar, presentes nas narrativas das informantes, evidenciam um modelo que desconsidera aspectos que se ligam às condições materiais e à identidade sociocultural dos grupos, propondo mudanças de hábitos que não se sustentam no cotidiano das pessoas.
Palavras
AbstractThe current article is a reflection about how normative discourses related to eating and health are held by overweight women, by considering that these discourses focus on dietary education and reeducation guidelines and actions. Educational feeding practices are historically based on the logic of risk driving the discourse on health, which include obesity-control approaches and interventions. Based on an ethnographic research carried out with women of the popular strata treated at a healthcare center in Rio de Janeiro, the reflections problematize the difficulty of connecting little-detailed information to a reflective and selfcare process. The idea of rationality of autonomous subjects informed about the "nutritional value" of food or about the "risk of illness" is translated into guidelines that show limited results. The concepts of dietary education and reeducation found in the informants' narratives show a model that ignores aspects related to the material conditions and sociocultural identity of the groups, since it suggests habit changes that do not comply with the daily life of these individuals.