A existência ou não do sacrifício humano, especificamente infantil, entre os povos fenício-púnicos é tema de acalorados debates acadêmicos há mais de um século. Recentemente, um conjunto significativo de revisões e novas abordagens físico-químicas da documentação cartaginesa reavivou a questão, que se viu, mais uma vez, no centro de réplicas e tréplicas internacionais. Estaremos diante de um tema que foge à nossa capacidade de análise imparcial? Este artigo pretende abordar os dados mais recentemente organizados em relação ao tema e as interpretações daí advindas. Neste contexto, o Norte da África destaca-se como espaço, até o momento, onde foram encontrados vestígios arqueológicos particularmente instigantes. Além do papel central que Cartago parece ter desempenhado, temos em solo norte-africano o único caso conhecido de “exportação” dessa prática ritual tão complexa. Referimo-nos ao santuário de El-Hofra, em Cirta (moderna Constantina, Argélia), área númida com posição estratégica na rede de trocas da região, visitada e habitada por gregos, latinos, cartagineses, além dos próprios berberes.