O mosquito Aedes aegypti, conhecido como o vetor dos vírus Zika, dengue, chikungunya e febre amarela, tem sido o alvo de campanhas de saúde pública, sendo visto historicamente como um inimigo a ser eliminado. No entanto, novas estratégias, como a abordagem transgênica, modificam biologicamente os mosquitos a fim de empregá-los no controle de sua própria população – aqui, a criação e o acasalamento de mosquitos são operacionalizados como inseticida. Nesse caso, o inseto precisa ser, ao mesmo tempo, amigo e inimigo, precisa ser cuidado e ser morto e precisa estabelecer encontros e não encontros. Com base em pesquisa etnográfica, feita em uma “biofábrica” no Nordeste brasileiro dedicada à produção em massa desses mosquitos transgênicos, Reis-Castro investiga as novas formas de trabalho e de valor produzidas por meio dessas relações contrastantes entre humanos e mosquitos. A autora combina estudos feministas da ciência e etnografia multiespécies para examinar, também, como o projeto é implementado, de maneira mais ampla, a partir de uma geopolítica de experimentação e de concepções de gênero mais-que-humanas. Com base em uma análise das relações multiespécie, engendradas sob a premissa de que é possível produzir não encontros, Reis-Castro identifica quais são as condições históricas e as promessas futuras que possibilitam a transformação da capacidade reprodutiva do A. aegypti em uma forma de trabalho mortífera. Tal reformulação produz o que a autora chama de “valor de não encontro” na reconstrução científica dos mosquitos, do seu devir e do seu ser.