ResumoA partir dos processos de construção da pessoa de pescadores costeiros e de lago no estuário do Amazonas, este artigo trata sobre abordagens da aprendizagem na antropologia. São discutidas alternativas ao tratamento da aprendizagem como socialização ou transmissão de conhecimento e à distinção formal/informal, apresentando propostas etnograficamente fundamentadas e centradas na prática. Em seguida, trata-se dos potenciais e limites da noção de skill, que amplia o foco deste debate para abarcar a relação dos organismos-pessoas com animais não humanos, ambientes, objetos, etc. Depois, faz-se uma aproximação à noção de individuação, do filósofo da técnica G. Simondon, e das implicações de sua proposta ontogenética para a compreensão do anthropos e da aprendizagem. Nesses termos, e sempre com base na comparação entre os pescadores amazônicos, defende-se a ideia da aprendizagem como gênese simultânea da pessoa e de um sistema de relações.
Naquele mesmo dia abandonou a academia. Irritou-se com o profesor, despediu-se das amigas e trancou a matrícula pensando em nunca mais voltar. "É demais!": há um ano ela se exercitava com um grupo de pessoas às 7 da manhã, montada sobre uma bicicleta estática, sob as instruções e a duvidosa seleção musical do professor e, quando resolveu fazer uma avaliação corporal, recebeu a notícia de que a gordura havia aumentado. Foi "o cúmulo!". Mas pior foi o professor que, ao interpretar um tanto surpreso os dados produzidos pelo computador, ao invés de mostrar solidariedade "fez foi tirar o corpo fora", lançando toda a culpa em suas costas. Aquele olhar de desconfiança e as perguntas, em tom irônico, a respeito de seu consumo de doces e chocolate foram a gota d'água. Perder a confiança do professor diante de um resultado negativo como aquele a levou a não prosseguir com a atividade. 1Compreensão de texto: quem são os agentes desse pequeno relato? Se levarmos em conta os participantes da trama dotados de capacidade de ação, então, além do professor e da aluna, a gordura deve ser considerada. É em vista dela que a aluna e o instrutor desempenham suas atividades e é em função de sua variação -o aumento inesperado -e seu caráter negativo que a situação se transforma e a relação se rompe.Mas não pode haver nada de estranho em considerar a gordura como agente no mundo contemporâneo. Afinal, é de conhecimento público que ela é capaz de entupir uma artéria, tomar parte do orçamento nacional e habitar os piores pesadelos femininos. Sabe-se inclusive que ela pode ser masculina (tipo maçã, ou andróide) ou feminina (tipo pêra, ou ginóide) e que fica localizada ou espalhada pelo corpo. Sua forma de ação mais comum é através do peso. "Excesso", "massa supérflua", "sobrepeso", a gordura tem um efeito limitante sobre o corpo, tornando-o menos capaz: "Imagine você correndo com uma mochila de 10 quilos nas costas!", explica o freqüentador
In this article I begin by describing my sense of ethnographic unease concerning the commensality and the conviviality of two predators in Amazonian lakes -piranhas and fishermen. From this starting point I then discuss the notion of domestication, commenting on the current tendency to reaffirm use of the term in social anthropology and revisiting two approaches: that of Jean-Pierre Digard (and other French authors) and that of Tim Ingold, both of whom make use of this notion in their ethnographic explorations of the relation between humans and animals. The article then returns to explore the potential of the notion of domestication for making explicit contemporary questions and dilemmas such as nature and culture, human and animal, subject and object. I conclude with a reflection on the ideas of domestication and predation in the relationship between piranhas and fishermen.Keywords: Human-animals relations; fishing; predation; domestication; Amazonia. Comendo (com) piranhas: aproximações indômitas da domesticação ResumoEste artigo parte de uma inquietação etnográfica sobre a comensalidade e o convívio entre dois predadores nos lagos amazônicos -piranhas e pescadores. Deste ponto de partida será discutida a noção de domesticação, primeiro com um comentário sobre a tendência de reafirmação do termo na antropologia social e em seguida revisitando duas abordagens: a de Jean-Pierre Digard (e outros autores franceses) e a de Tim Ingold, ambos tendo feito uso desta noção como modo de tratamento dos variados sentidos e formas das relações entre humanos e animais. O artigo trata então da noção de domesticação enquanto forma de explicitar questões e dilemas contemporâneos como natureza e cultura, humano e animal, sujeito e objeto.Concluo com uma reflexão sobre as ideias de predação e domesticação para compreender a relação entre piranhas e pescadores.
[...] participando nessas atividades, [o antropólogo] capta pela ação tanto como pelo ouvido e a vista o que sucede à sua volta.E. Evans-Pritchard (2002:80).Um dos principais desenvolvimentos da antropologia nas últimas déca-das foi a ideia da constituição das relações a partir da ação, o que levou à emergência de um leque de formulações diversas em torno das noções de prática ou de experiência, afirmando-se por diferentes vias que as ações não são mera decorrência de normas e conhecimentos explícitos. Esse tipo de postura orientou também algumas reflexões sobre a etnografia, como aquela em torno da noção de participação observante, evocando a imersão do pesquisador nas relações pesquisadas, seja no sentido de um engajamento político ou corporal. 1Debateremos questões relativas a este campo a partir das pesquisas realizadas pelos dois autores em situações distintas, que envolvem conjuntos bastante complexos de habilidades e de saberes. Trata-se do repente nordestino, prática de poesia improvisada estudada por João Sautchuk (2012), e de duas modalidades de pesca na região do estuário do rio Amazonascaptura do pirarucu com arpão e pesca costeira embarcada -pesquisadas por Carlos Sautchuk (2007). Mais do que apresentar os sistemas de práticas e conhecimentos (o que faremos aqui de maneira bastante resumida), trataremos neste artigo das estratégias etnográficas empregadas nesses dois casos.Ambos adotamos como principal abordagem etnográfica, explícita e conscientemente, o intuito de aprender, de nos engajarmos efetivamente no desenrolar das atividades pesquisadas. O objetivo inicial era propiciar uma aproximação com certos aspectos que pareciam menos enfatizados em
This paper discusses the use of moving images in the anthropology of technique, specifically, the ethnographic recording of the capture with harpoon of arapaima fish in the coastal lakes of Amapá, in the Brazilian Amazon. Inspired in Rouch's notion of cine-trance, I ponder on the possibility of doing ethnography by intertwining the technical processes of capturing that fish and capturing images. I also describe the way in which I take the relationship between the movie camera and the harpoon - their rhythms and properties - as a helpful tool to describe the major features of the dialogical interaction between harpooner and fish, namely, the harpooner-harpoon link, the perception of signals emitted by the fish, and the meaning of the capturing gesture.
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