Educação matemática na escola indígena sob uma abordagem crítica

Abstract

Esse artigo busca promover uma reflexão sobre desafios da Educação Matemática na Escola Indígena, tendo como referência o povo Kaingang da Terra Indígena Xapecó, em Ipuaçu (SC), e as possibilidades de inserção, no ambiente de sala de aula, de discussões relacionadas aos papéis desempenhados pela matemática na sociedade indígena. Com esse propósito, apresentamos contribuições da Educação Matemática Crítica a partir de três questões fundamentais: o quadro sociopolítico da educação matemática (globalização e guetorização), competências que deveriam ser associadas à educação matemática (matemacia) e o foreground dos estudantes indígenas. A compreensão de que as práticas e a produção de conhecimentos matemáticos ocorrem em todas as culturas é um dos esteios desse trabalho, que tem aporte teórico na Etnomatemática.

Motivos para Participação em Tarefas Investigativas na Aula de Matemática: uma análise a partir dos backgrounds e dos foregrounds de um grupo de estudantes do Ensino Fundamental

“…A investigação de backgrounds e foregrounds tem sido discutida por alguns autores em Educação Matemática (ALRØ; SKOVSMOSE, 2010;SKOVSMOSE, et al, 2009;SKOVSMOSE, et al, 2012;BERNARDI;CALDEIRA;DUARTE, 2012;BIOTTO FILHO, 2015). Skovsmose et al (2009) ISSN 1980-4415 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1980 Por outro lado, podemos verificar, por meio de alguns dados fornecidos pelos autores dos dois artigos que os backgrounds dos estudantes indígenas influenciaram de forma distinta os seus foregrounds, quando comparados aos dos estudantes da favela.…”

O ritual do toré como organizador prévio para o conceito de círculo

“…Nesse cenário de perdas e desigualdades acumuladas pelos povos indígenas no Brasil, desde o início da colonização, a educação, como propõem Bernardi & Caldeira (2012), precisa encontrar um equilíbrio entre a tradição e a contemporaneidade. Eles propõem que a escola indígena deva ser esse lugar, pois […] é o espaço de reafirmação das identidades e da construção permanente de autonomia e alteridades, num desafio cotidiano, que busca permitir ao Kaingang de hoje o orgulho de ser nativo e lutar para reconstruir o projeto sociocultural de seu povo, onde possa se reconhecer como indígena Kaingang, fortalecer o sentimento de ser indígena, de sentir-se indígena, ao mesmo tempo em que estabelece diferentes relações com as sociedades de entorno (2012, p. 413).…”

“…Teoricamente orientados pela educação matemática crítica (EMC), Bernardi & Caldeira (2012), por exemplo, recorrem à forma de reação para lidar com as contradições e as desigualdades sociais vivenciadas pelos Kaingang, a partir de três conceitos estruturadores, o poder formatador da Matemática, a competência democrática e a ideologia da certeza.…”

“…O intercâmbio cultural está atento aos cuidados com a identificação de atividades estruturadas e com os fundamentos essenciais da identidade e da constituição étnica dos povos indígenas, apontados por Silva (2014) no seu estudo com crianças xacriabás. Silva também recorre à competência democrática como aspecto da educação matemática crítica, proposta por Bernardi & Caldeira (2012), para ajudar os Kaingang a lidarem com as contradições e desigualdades sociais.…”

“…Para isso, investiu-se na exploração de aspectos da cultura local, a fim de levar as crianças a construírem habilidades para lidar com o conhecimento matemático em situações dentro e fora do seu convívio natural, como sugerido por Bernardi & Caldeira (2012).…”