Efeitos de um treino em Psicoterapia Analítica Funcional sobre a identificação feita pelo terapeuta de comportamentos clinicamente relevantes de seu cliente.

Abstract

O presente artigo relata um estudo que investigou o efeito de um treino, com supervisões de acordo com a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) sobre a identificação feita pelo terapeuta de comportamentos clinicamente relevantes de seu cliente. O método consistiu de um delineamento A/B aplicado a 15 sessões de psicoterapia. As sessões foram conduzidas por um terapeuta iniciante e um cliente cujo problema clínico estava centrado em dificuldades interpessoais. Nas cinco sessões iniciais o terapeuta em treino recebeu uma supervisão convencional e leu literatura sobre assertividade. A partir da quinta sessão o terapeuta recebeu a supervisão conforme a FAP. Os principais componentes da supervisão foram o preenchimento de um questionário (FIAT), que investiga padrões de comportamento interpessoal, a modelagem direta pelo supervisor no aqui/agora da supervisão de comportamento interpessoais relevantes para a terapia, a indicação de bibliografia sobre a FAP e discussão das leituras, além de esclarecimentos acerca dos comportamentos clinicamente relevantes do cliente. Os resultados indicaram que após a introdução da FAP, o participante tendeu a indicar mais comportamentos do cliente relacionados à melhora e mais verbalizações de autoconhecimento, enquanto que as indicações dos comportamentos relacionados ao problema tenderam a decrescer ao longo das sessões. Os resultados sugerem que o terapeuta passou a indicar dimensões do comportamento de seu cliente que iam além do problema clínico. Tais resultados foram discutidos em termos das contribuições da FAP para a promoção da mudança clínica que se torna mais viável quando as dimensões comportamentais que possibilitam a modelagem direta na sessão são percebidas pelo terapeuta.

O ensino de habilidades terapêuticas em FAP: uma revisão de literatura

“…Foram encontrados manuscritos de pesquisadores de instituições do Brasil (n = 7), dos Estados Unidos (n = 6) e de Singapura (n = 1). Houve sobreposição no número de manuscritos por países devido a duas colaborações internacionais, uma entre instituições do Brasil e dos Estados Unidos (Silveira, et al, 2009) e outra entre instituições dos Estados Unidos e de Singapura (Keng, et al, 2016 Ao analisar esses dados em conjunto, parece haver uma divisão quase igualitária entre a produção de pesquisas sobre treinamento de psicoterapeutas em FAP por pesquisadores de instituições do Brasil e dos Estados Unidos e em relação as publicações em inglês e português. As colaborações internacionais foram raras e parece ter havido pouco intercâmbio de publicações dos pesquisadores em periódicos estrangeiros, com exceção de Silveira et al (2009) e Wielenska e Oshiro (2012).…”

“…Em oito estudos, as estratégias de ensino foram presenciais e em dois deles a modalidade de treino foi online (os dois foram treinamentos de habilidades terapêuticas) usando tecnologia de conferência pela internet. A investigação de determinadas estratégias de ensino parece se relacionar com determinadas instituições e grupos de pesquisa, os três estudos de THT são americanos, enquanto todos os estudos de workshop e supervisão são brasileiros (com uma colaboração internacional - Silveira et al, 2009).…”

“…Nota. FAPIS = FAP Impact Scale (Kanter et al, 2013); IRI = Interpersonal Reactivity Index (Davis, 1983); CLS = Compassionate Love Scale: Stranger-humanity Version (Sprecher & Fehr, 2005); FFMQ-SF = Five Facet Mindfulness Questionnaire-Short Form (Bohlmeijer, ten Klooster, Fledderus, Veehof, & Baer, 2011); AS = Authenticity Scale (Wood, Linley, Maltby, Baliousis, & Joseph, 2008); TEI = Treatment Evaluation Inventory (Kazdin, 1980); MC-SDS = Marlowe-Crowne Social Desirability Scale-Short Form C (Reynolds, 1982); FAPCS = FAP Competency Scale (instrumento não publicado e desenvolvido pelo segundo autor do estudo de Maitland et al, 2016, no qual é apresentada uma breve descrição); FAPRS = FAP Rating Scale (Callaghan, Follette, Ruckstuhl, & Linnerooth, 2008); PRCRB = Protocolo de Registro de Comportamentos Clinicamente Relevantes (Silveira et al, 2009); BDI = Beck Depression Inventory (Beck, Ward, Mendelson, Mock, & Erbaugh, 1961); IHS = Inventário de Habilidades Sociais (Del Prette, & Del Prette, 2001). Foram utilizadas algumas notações científicas para descrever os delineamentos utilizados.…”

Treino de comportamentos de intimidade para terapeutas em processo de formação em Psicoterapia Analítica Funcional

“…Há estudos que utilizaram a relação entre supervisor e supervisionando para ilustrar momentos de aprendizagem proporcionados pela supervisão (Sousa & Vandenberghe, 2007;Wielenska & Oshiro, 2012) ou para verificar seus efeitos nos comportamentos do supervisionando e do cliente em sessão (Lepienski, 2015). Alguns utilizaram técnicas de feedback sobre o desempenho do terapeuta em sessão (Follette & Callaghan, 1995;Meurer, 2011) e há ainda um estudo que avaliou os efeitos de uma supervisão FAP na identificação de CRBs por um terapeuta (Silveira et al, 2009). Nesse estudo, foi realizada a modelagem direta pelo supervisor, no aqui-agora da supervisão, de comportamento interpessoais relevantes do supervisionando, associada ao preenchimento do instrumento FIAT-T (Functional Idiographic Assessment Template -Therapist, Callaghan, 2006), que investiga padrões de comportamento interpessoal do terapeuta.…”

“…Apenas dois estudos relataram treino direcionado a vários terapeutas concomitantemente Wielenska & Oshiro, 2012), enquanto que outros estudos consistiram em supervisões realizadas entre um supervisor e um supervisionando (Follette & Callaghan, 1995;Lepienski, 2015;Meurer, 2011;Silveira et al, 2009;Sousa & Vandenberghe, 2007). A supervisão ou treino destinado a apenas um supervisionando não é um problema.…”