RESUMOEm bovinos, os procedimentos invasivos ovarianos transvaginais, empregados com finalidades diagnósticas, biotecnológicas ou experimentais, mesmo sendo práticas consolidadas, podem apresentar complicações posteriores. Este relato tem como objetivo apresentar complicações observadas em três fêmeas bovinas da raça Holandesa submetidas à biópsia de corpo lúteo (CL) pela técnica transvaginal guiada por ultrassonografia, empregando-se agulha Tru-cut (18G x 48 cm). No segundo dia após o procedimento, os animais começaram a apresentar sinais característicos de peritonite, como leucocitose, neutrofilia, hiperfibrinogenemia, acúmulo de fluido intra-abdominal e aderências do útero e ovários às vísceras circunvizinhas. Como o prognóstico desta afecção é ruim ou reservado, as vacas foram eutanasiadas e necropsiadas. Os principais achados post mortem foram: hidroperitôneo, peritonite fibrinosa difusa, ooforite fibrinosa associada a múltiplos cistos ovarianos, acúmulo de líquido seroso/purulento abundante no útero e múltiplos cistos aderidos à serosa intestinal, além de aderências intestinais ao ovário. Como o grau de comprometimento peritoneal era decrescente e pelo fato dos animais acometidos terem sido submetidos à biópsia de CL sequencialmente no mesmo dia, com a mesma agulha, suspeitou-se que no primeiro animal pode ter ocorrido o acidente primário que resultou na contaminação fecal da agulha, sendo disseminada para os demais animais. Os achados do presente relato demonstram o risco de ocorrência de complicações após procedimentos invasivos de fundo vaginal com o emprego de agulhas e sinalizam a importância dos cuidados de higiene, da troca da agulha e a necessidade de experiência do operador para a realização segura da técnica.