Resumo: O ensino de ciências envolve aspectos que vão além dos chamados produtos científicos: ideias, teorias, hipóteses, leis e resultados. Qualquer educação que almeje a compreensão plena da ciência como um empreendimento humano deve incorporar no ensino das matérias científicas qualidades epistemológicas da natureza da ciência. Uma das estratégias para fomentar a compreensão dessas características é o emprego formal da qualificação de ideias através de termos guarda. Neste trabalho de natureza teórica, discutimos, a partir do aporte de referenciais recentes na área, algumas das características epistêmicas da ciência -o falibilismo epistemológico, a abertura a novas ideias e o processo de revisão contínua -e sua conexão com a qualificação de ideias em sala de aula. Argumentamos que o emprego de frases e termos que melhor demonstrem a força das evidências que existem para uma dada ideia são capazes de melhor refletir a presença destes elementos durante o processo científico. A substituição de termos como "provado" ou "foi comprovado que" por "provável" ou "evidências indicam que" descreve mais adequadamente o status epistêmico das ideias científicas, que não estão fixadas entre verdadeiro ou falso, mas sim contidas em um complexo espectro de probabilidades. Reforçar o ensino de ciências com ênfase no entendimento da natureza da ciência pode auxiliar a resolver problemas modernos, como a crescente descrença nos esforços de cientistas e nos produtos de suas pesquisas, como vacinas e medicamentos, bem como dosar razoavelmente a força com a qual podemos depositar nossas crenças neles.