Incorporação de novas tecnologias ao controle vetorialO descrédito do controle vetorial nos moldes em que hoje é praticado é tal que, em polêmico artigo publicado recentemente por pesquisadores britânicos, foi sugerido que no caso do ZIKV seria preferível não retardar a infecção, deixando que a transmissão natural interrompesse a circulação por esgotamento dos suscetíveis e produção da chamada "imunidade de rebanho". Segundo modelo desenvolvido pelos autores, a epidemia de Zika na América Latina estaria controlada em, no máximo, três anos (1) . Na eventualidade de que tal pressuposto fosse válido, assumindo que políticas de planejamento familiar em áreas endêmicas evitassem casos de Síndrome Congênita pelo ZIKV no período estabelecido, a interrupção das ações de controle tradicionais jamais poderia ser seriamente cogitada no nosso contexto. Além do fato da imunidade ao DENV ser específica para os quatro sorotipos impedindo uma modelagem análoga à realizada para o ZIKV, o aumento da letalidade dos casos de dengue grave (2) e a relativa alta cronicidade que a febre de Chikungunya (3,4) demonstrou em vários países -desfechos desfavoráveis de alto custo -tornam as estratégias de redução da abundância do vetor ainda necessárias, embora com urgente necessidade de aperfeiçoamento (5,6) .A aceitação de que determinantes biológicos, socioeconômicos e ambientais estão associados à dispersão da maioria das arboviroses exige estratégias de caráter intersetorial que transcendem as ações exclusivas de controle químico do vetor (7)(8)(9) . Estas, que são baseadas em grande medida no uso rotineiro de larvicidas para redução das formas imaturas e na borrifação aérea de adulticidas em períodos de alta transmissão, tem-se mostrado ineficientes na contenção da transmissão e, particularmente, pouco sustentáveis nos mais diversos contextos (5) . A Organização Mundial de Saúde (OMS) recentemente reforçou a necessidade de integrar diversas abordagens, propondo a estratégia de Manejo Integrado de Vetores (MIV) como forma de obter melhores resultados, tanto na redução da abundância do vetor quanto na contenção das doenças vetoriais (6,9) .O MIV pressupõe a otimização de recursos através de um processo de tomada de decisão racional que possa melhorar eficácia e custo-efetividade do controle vetorial. Reforçando a importância da participação social, da disponibilidade de recursos humanos/estruturais e de uma legislação adequada aos objetivos do controle vetorial, o MIV apoia-se no conhecimento local adequado da ecologia dos vetores e do padrão de transmissão das doenças em questão (2,9) . Um diagnóstico correto da situação entoepidemiológica facilitaria uma integração de tecnologias de controle vetorial contextualizadas que seriam mais eficientes (9) . Também não parece haver dúvida de que o MIV pode induzir um uso de inseticidas mais responsável, condicionando-o a uma avaliação mais precisa de custos econômicos e ambientais, sempre balizado nos estimados ganhos para a saúde pública (6,9) .Diversas estratégias baseadas em alternativas inov...