Estilísticas e estéticas do homoerotismo na velhice: narrativas de si

Abstract

Este artigo problematiza narrativas ouvidas durante uma pesquisa sobre as experiências do homoerotismo na velhice entre homens. Buscou-se enfatizar os processos de resistência e de subjetivação em face de modelos hegemônicos que dão contornos à velhice e à homossexualidade. Ao tentar escapar do fatalismo da abjeção muitas vezes atribuída aos homossexuais mais velhos, sustenta-se que o sujeito velho e homossexual estaria habitando uma zona limítrofe de um regime discursivo que estabelece, por um lado, um campo de legitimidade e, por outro, uma zona de ininteligibilidade, um exterior constitutivo. Estar nessa fronteira discursiva (performatizada pela própria materialidade do corpo) não necessariamente constitui uma vida abjeta, mas incita a fissuras pelas quais o desejo pode potencialmente adquirir matérias de expressão. Nesse sentido, as narrativas ouvidas apontaram para uma possível ética do envelhecimento, a partir da qual os sujeitos podem conduzir e (re)inventar a vida, o corpo e o desejo.

O dispositivo da idade, a produção da velhice e regimes de subjetivação: rastreamentos genealógicos

“…The notion of dispositif, therefore, seems relevant to us in analyses that seek to understand the forms of objectification of the subject, the production of the margins in which they are allocated and the modes of resistance and subjectivation arising as ethical strategies in the constitution of self. Thus, we find the concept of dispositif a possible analytical tool to work intersections between age/ generation and other social markers of difference, as sexuality and gender, as some authors have sought to do from different perspectives (Amaral, 2012;Amaral & Toneli, 2013;Duque, 2009;Henning, 2014;Pocahy, 2011;Antunes, 2013;Santos, 2012a;Santos & Lago, 2013).…”

Cartografando estilizações do homoerotismo na velhice: pistas metodológicas nos estudos sobre sexualidades ★

“…Em nossas pesquisas recentes temos problematizado algumas formas pelas quais o homoerotismo e a homossexualidade 1 podem ser experienciados, estilizados e performatizados na velhice (SANTOS, 2012; SAN-TOS;LAGO, 2012LAGO, , 2013. Buscamos por cartografias que sinalizassem como o desejo, o corpo e o erotismo se agenciam e se (co)produzem, mesmo diante de alguns fantasmas de abjeção que rondam as existências de sujeitos que corporificam as marcas do tempo e que experienciam uma sexualidade não-heterossexual.…”

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Artigo

Introdução: localizando algumas linhasEm nossas pesquisas recentes temos problematizado algumas formas pelas quais o homoerotismo e a homossexualidade 1 podem ser experienciados, estilizados e performatizados na velhice (SANTOS, 2012; SAN-TOS;LAGO, 2012LAGO, , 2013. Buscamos por cartografias que sinalizassem como o desejo, o corpo e o erotismo se agenciam e se (co)produzem, mesmo diante de alguns fantasmas de abjeção que rondam as existências de sujeitos que corporificam as marcas do tempo e que experienciam uma sexualidade não-heterossexual.

A velhice entre sujeitos que se reconhecem e se afirmam como homossexuais/gays ainda pode ser, em alguns contextos, vista como a expressão de uma vida fora de um "mercado sexual" ou mesmo como uma caricatura de um corpo abjeto ou despotencializado, como denunciam alguns autores (MOTA, 2009;SIMÕES, 2004;PAIVA, 2009).

…”

“…Algumas de nossas problematizações decorrentes dessas cartografias foram discutidas em outras publicações, onde focamos especificamente nos afetos estéticos, na corporeidade e na produção desejante mobilizada em tal território (SANTOS; LAGO, 2012), bem como nas narrativas compartilhadas entre alguns interlocutores da pesquisa e o cartógrafo (SANTOS; LAGO, 2013). O que 2 Ursos (ou Bears, em inglês) é uma categoria identitária que se refere, geralmente, a homens gordos, peludos e barbudos, que sentem atração por outros homens (ursos também, ou não).…”

Attitudes towards Lesbian, Gay, Bisexual and Transgender Old Age Scale (EAFV– LGBT): Elaboration and Psychometric Evidence

“…Denying old age is one of the effects of social repression (Santos et al, 2017), one study addressed the fact that denying LGBT old age can be construed as an escape from the double prejudice of being LGBT and elderly (Alves, 2010). In this sense, another study talks at length about resorting to aesthetic devices and how it is a means to avoid an elderly appearance (Santos & Lago, 2013). Furthermore, the above-mentioned author emphasizes that, seeing that the cognitive aspects remain healthy, feeling and acting like someone younger becomes normal within the group.…”