As comunidades agroflorestais sempre formaram os lugares mais numerosos no Brasil, até o presente. As suas relações sociais foram pautadas pela “política da consideração” e economia de colaboração, diferentemente do sistema patriarcal e mercantil europeu. As mulheres tinham proeminência nas comunidades e práticas autossustentadas, segurança alimentar, produção de materialidade e transmissão de conhecimentos. Em São Paulo, a partir de 1502 houve um contexto específico de colonialismo, onde as comunidades Tupiniquim transformaram as relações com parte dos portugueses em relações de aliança, parentesco e consideração, amansando-os e criando materialidades, a exemplo da Cerâmica Paulista. Os portugueses não dominaram as comunidades Tupiniquim, mas uma parte deles ingressou nas comunidades de práticas indígenas, formando posteriormente o “autonomismo paulista”. Nesse contexto, coexistiram práticas colaborativas e de mercado, incorporando pessoas, coisas e conhecimentos de diversos lugares, como um modo de vida diferente daquele desenvolvido nos núcleos urbanos e nas plantations. É preciso compreender que as comunidades tiveram diferentes processos históricos que permitiram as suas persistências até o presente. Há o caso das mulheres que continuam produzindo a Cerâmica Paulista, mas não se consideram indígenas; enquanto outras comunidades, como as Tupi Guarani de Piaçaguera (São Paulo), reivindicam abertamente a identidade “misturada” entre Tupi e Guarani e manifestam o interesse em retomar a produção cerâmica que deixaram de fazer no passado. É um exemplo que exige a reavaliação do apagamento acadêmico dos povos indígenas na historiografia, arqueologia e antropologia em São Paulo, pois eles estão presentes independentemente das narrativas que as pessoas de fora têm produzido a seu respeito.