Explosão da mortalidade no epicentro amazônico da epidemia de COVID-19

Abstract

Manaus, capital do estado brasileiro do Amazonas, é o atual epicentro da epidemia na Amazônia com um aumento repentino de mortes que preocupa gestores e sociedade. O objetivo do estudo foi analisar o excesso na mortalidade geral, segundo Semanas Epidemiológicas (SE), visando a identificar mudanças potencialmente associadas à epidemia em Manaus. Dados de mortalidade geral e grupos de causas foram obtidos na Central de Informações do Registro Civil Nacional e no Sistema de Informações sobre Mortalidade, para 2018, 2019 e 2020. Analisou-se faixa etária, sexo, local de ocorrência do óbito, SE, ano-calendário e causas de morte. Calcularam-se razões entre as mortes ocorridas em 2019/2018 e 2020/2019 para avaliar o excesso de mortes, com intervalos de confiança no nível de 5%. Não observou-se excesso de mortalidade geral significativo nas razões 2019/2018, independentemente da SE. Já as razões de 2020/2019 passaram de 1,0 (IC95%: 0,9-1,3) na SE 12 para 4,6 (IC95%: 3,9-5,3) na SE 17. Observou-se excesso de mortalidade geral com a progressão da idade, especialmente em indivíduos com 60 anos e mais, os quais concentraram 69,1% (IC95%: 66,8-71,4) das mortes. A razão 2020/2019 para óbitos em domicílio/via pública foi de 1,1 (IC95%: 0,7-1,8) na SE 12 e de 7,8 (IC95%: 5,4-11,2) na SE 17. A explosão da mortalidade geral em Manaus e a elevada proporção de óbitos em domicílio/via pública expõe a gravidade da epidemia em contextos de grande desigualdade social e fraca efetividade de ações governamentais, em especial aquelas voltadas ao enfrentamento das desigualdades sociais e para a garantia e fortalecimento do Sistema Único de Saúde.

The false promise of herd immunity for COVID-19

“…In Manaus, mortality rates during the first week of May soared to four-and-a-half times what they had been the preceding year 7 . And despite the subsequent excitement over the August slowdown in cases, numbers seem to be rising again.…”

The effect of state-level social distancing policy stringency on mobility in the states of Brazil

“…Since the first confirmed case in Brazil occurred on February 25, 2020 (Candido et al, 2020), the epicenter of COVID-19 infection rates remained concentrated in the State of São Paulo up until mid-May 2020 (Ministry of Health, 2020). The coronavirus pandemic struck many of the states of Brazil, and although the proportion of infections was still low in some states by early May, other states experienced a rapid increase in infections and the collapse of their hospital system due to the sudden surge in patients (Orellana, Cunha, Marrero, Horta & Leite, 2020). 2 As we document in this paper, sub-national governments played a particularly important role as the key actors implementing social distancing measures to halt the spread of the virus in Brazil (Barberia et al, 2020b).…”

Violência e vulnerabilidade no território do agente comunitário de saúde: implicações no enfrentamento da COVID-19

“…A relação de taxa de óbitos de COVID-19 com vulnerabilidade social não é novidade na atual pandemia. Dados dos municípios de Manaus e Rio de Janeiro também demonstraram correlações semelhantes 3,6 . Casos graves de CO-VID-19 no Rio de Janeiro ocorrem em áreas de vulnerabilidade de toda a cidade, mas, principalmente, nas periferias e nas comunidades carentes incrustadas em áreas nobres 6 .…”

“…Casos graves de CO-VID-19 no Rio de Janeiro ocorrem em áreas de vulnerabilidade de toda a cidade, mas, principalmente, nas periferias e nas comunidades carentes incrustadas em áreas nobres 6 . Em Manaus, o impacto da mortalidade é mais acentuado nas áreas com condições socioeconômicas mais precárias 3 .…”

“…No Brasil, o primeiro caso foi anunciado em 26 de fevereiro de 2020, expandindo-se para 1.864.681 casos e 72.100 óbitos até 12 de julho de 2020, sendo o terceiro país mais afetado no globo 2 . Evidencia-se que apenas cinco estados brasileiros respondem por 81% das ocorrências de óbitos: São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Amazonas, que refletem a heterogeneidade geográfica e social do país 3 .…”