Rev Bras Educ Fís Esporte, (São Paulo) 2017 Abr-Jun; 31(2):479-88 • 479As barreiras enfrentadas por treinadoras brasileiras
IntroduçãoAs barreiras enfrentadas por treinadoras brasileiras
ResumoNo Brasil, a representatividade de mulheres como treinadoras esportivas é muito baixa. Diante desse cenário, este estudo teve como objetivo identificar e analisar as barreiras encontradas por treinadoras brasileiras em sua carreira. As participantes da pesquisa foram treze técnicas esportivas de oito modalidades. O método empregado foi a análise de conteúdo proposta por Bardin. A produção de dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas. As principais barreiras identificadas foram a apropriação majoritária do espaço pelos homens, o preconceito, o conflito entre vida pessoal e a vida profissional, e a baixa remuneração. Concluiu-se que as treinadoras enfrentam muitas dificuldades, as quais limitam a presença de mulheres no comando esportivo brasileiro.Palavras-chave: Mulheres; Esportes; Gênero; Treinamento.A última edição dos Jogos Olímpicos, ocorrida em Londres em 2012, protagonizou discursos que celebravam a maior participação feminina da histó-ria do megaevento: 44% dos/as atletas participantes eram mulheres 1 , sendo que todos os países enviaram representantes do sexo feminino, um fato inédito. Se a ampliação da participação feminina nos megaeventos é, sem dúvida, digna de comemoração, é necessário lembrar que algumas expectativas baseadas no gênero se mantém vivas no universo do esporte 2 , e que as condições de acesso e permanência de mulheres em boa parte das práticas corporais e esportivas ainda estão aquém das encontradas pelos homens, o que se evidencia nas menores oportunidades de prática, visibilidade conferida pela mídia, prêmios atribuídos aos vencedores de competições, entre outros 3 . Na arbitragem, na mídia, na gestão de clubes, federações e confederações ou no treinamento de atletas e equipes, evidencia-se que a presença feminina é ainda muito baixa, tanto no contexto nacional 4-7 como no internacional [8][9][10][11][12][13][14] . Este estudo tem como objeto uma dessas funções nas quais as mulheres se encontram sub--representadas: a de treinadora esportiva. A atual realidade da carreira de treinadora esportiva pode ser didaticamente analisada a partir de mudanças e interações entre três relações: mulher e trabalho, mulher e família e, mulher e esporte.As relações das mulheres com o mercado de trabalho nos fornecem apontamentos para compreender o processo de naturalização de uma divisão sexual dos cargos no contexto esportivo. Segundo Perrot
15, o século XIX levou a divisão das tarefas e a segregação sexual dos espaços ao seu ponto mais alto. Cada sexo tem sua função, seus papéis, seus espaços. Definiu-se que o lugar das mulheres era o espaço da vida privada 16 . Nesse período, ser dona de casa era a condição da maioria das mulheres. Com a entrada das mulheres para o mercado de trabalho, após as duas grandes guerras mundiais, essa realidade foi se modificando [15][16][17] . No Brasil, durante...