Quando se estuda o uso de crack parece haver unanimidade: o uso sempre é problemático. Diversos estudos são desenvolvidos com usuários que estão em tratamento e/ou internados. Ou então, quando se trata de usuários em cenas públicas, da rua, não se interpreta o contexto, a situação de rua e todas as outras questões sociais envolvidas, mas todas as mazelas são apresentadas por uma monocausalidade, a droga. Tendo isso em conta, a perspectiva desse artigo é de colocar em discussão a afirmação de que o uso do crack se daria sem nenhum controle por parte dos envolvidos nesta prática. Visa, também, examinar em que medida os chamados “usos problemáticos” (associados às cenas de uso público) e a produção de discursos morais e estigmatizantes performam as experiências dos usuários de crack de uso não visível. Pretendeu-se, ao mesmo tempo, identificar o uso controlado e analisar os diferentes contextos de uso, levando em consideração o conhecimento construído pelos usuários, fato importante para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e que respeitem os direitos e a autonomia dos usuários quer tenham desenvolvido problemas com o uso ou não.