Resumo: O texto introduz questões recentes sobre a relação entre as ciências sociais na África e no Brasil, inserindo-as no debate sobre as sociologias do Sul e a geopolítica do conhecimento na produção de teoria social. A partir da noção de sociologia não exemplar são apresentados alguns dos possíveis caminhos teórico-metodológicos que possibilitariam um posicionamento mais simé-trico para a produção de conhecimento localizada fora da Euro-América.Palavras-chave: descolonização, África, sociologias do Sul, sociologia não exemplar, teoria social.A década de 2000 assistiu a um movimento muito interessante nas ciên-cias sociais brasileiras. Pela primeira vez, pesquisadores tiveram incentivos institucionais reais para realizarem pesquisas fora do país 1 . Num momento em que estavam no auge iniciativas como o Fórum Social Mundial e coalizões governamentais como Ibas e Brics 2 , agências de fomento criaram mecanismos específicos para aproximar pesquisadoras nacionais de colegas africanos. Lentamente começamos, neste lado do Atlântico, a tomar contato com teorias e processos sociais produzidos naquele continente.Ainda que o caminho das relações acadêmicas continue privilegiando encontros entre brasileiras e africanas 3 nas universidades classicamente coloniais da Europa e dos Estados Unidos, com a nova conjuntura certas coisas começam a mudar. Em nossas viagens de pesquisa já trazemos não apenas souvenirs ou dados de um continente remoto que confirmam as arbitrárias descrições presentes em clássicos da antropologia e da sociologia. Passamos a contrabandear livros, artigos e amizades que trazem desafios imensos para todos e todas. O maior deles talvez seja reconhecer a importância dos conhecimentos produzidos naquela região para pensar a pró-pria maneira como narramos a história das ciências sociais e para desafiar nossos modelos teóricos. Neste ponto, não há dúvida que podemos pensar nossas relações com a África na mesma chave em que se tem pensado as relações Sul -Sul.Diante de tal contexto, se faz necessário pensar em como dar vida acadêmica às contribuições de nossos colegas do Sul para a produção do conhecimento em ciên-cias sociais. Na maior parte dos países da África e no Brasil, cursos de teoria social são completamente dominados pela ideia de que teoria é algo que se produz na Euro-América (e.g. no Brasil separamos radicalmente cursos de teoria social dos (Connell, 2007). Na mesma chave, consideramos normal que, entre os textos teóricos considerados clássicos da sociologia, não haja contribuições de mulheres, nem euro-americanas 4 e nem de outros continentes.Outra consequência importante é que tendemos a reconhecer a África e a sermos reconhecidos pelos colegas daquela região por meio de pesquisa e descrições publicadas a partir das agendas euro-americanas. Nessa condição, tendemos a olhar seletivamente tanto de um lado como de outro, na busca de temas como pobreza, desigualdades, dominação e patriarcalismo entre outros termos derrogatórios. Um bom exemplo é a crítica dentro da teoria feminista feita por Moh...