Homens e masculinidades e o novo coronavírus: compartilhando questões de gênero na primeira fase da pandemia

Abstract

Resumo Este artigo opinião apresenta reflexões sobre masculinidades e construções de gênero - a partir do fenômeno global da pandemia do novo coronavírus -, produzidas por pesquisadores/as que integram a equipe nacional de uma pesquisa sobre política de atenção integral aos homens na saúde, no Brasil. A partir de leituras baseadas em gênero, o artigo argumenta que é preciso atentarmos que a socialização masculina cisheteronormativa se orienta a partir de três eixos: 1) a abjeção às práticas de cuidado de si e dos outros; 2) a rejeição às práticas preventivas em saúde, dada uma distorcida matriz de percepção de risco (e certo sentimento de “invulnerabilidade”); 3) a dinâmica doméstica marcada por posições de comando, ordenamento e honra. Essas dimensões da vida cotidiana foram profundamente provocadas nesta primeira fase da epidemia, em que o confinamento se tornou a alterativa mais recomendável. Esses eixos se configuram como repertórios recorrentes (embora não recentes) que reificam o modelo central de uma ordem masculina que precisa se tornar objeto de reflexão, na medida em que colocam em risco a saúde de homens e mulheres e mais amplamente dos pactos civilizatórios e da ordem social.

Pandemia da Covid-19: Perspectiva Feminina sobre o Isolamento Social

“…Na amostra deste estudo, ambas as participantes demonstraram estresse e preocupação intensos relacionados ao cuidado dos filhos e da casa. A sobrecarga com os afazeres vivida por mães em tempos de isolamento social contribui ainda mais para aprofundar a desigualdade de gênero (Collins, Landivar, Ruppanner, & Scarborough, 2020;Medrado et al, 2021).…”

Stigma experienced by men diagnosed with COVID-19

“…Thus, people diagnosed with COVID-19 gradually lost their identity and were treated based on stereotypes or metaphors surrounding the disease. In the case of men in particular, specificities arising from constructs of masculinities (7) contributed to modeling the male public's own ways of perceiving and facing the disease and the phenomena present in stigma, such as, in the so-called male socialization spaces among friends and coworkers.…”

“…In cases of outbreaks, epidemics or pandemics, directly affected people are labeled, stereotyped, discriminated against, isolated and treated differently by non-ill people, losing their social status (4,26) . Among men, labeling they can emerge subtly and even difficult to perceive, especially when combined with aspects of the attributes of hegemonic masculinity (7) , which diminishes and rejects masculine experiences in terms of sensitivity, emotions and feeling and the recognition of psychosocial impacts (9,(26)(27) .…”

“…Gender differences impact morbidity and mortality indicators between men and women, since the hegemonic model of masculinity in society determines that men must be strong, virile, courageous, providers and invulnerable, which affects the difficulty of adopting preventive care practices, such as social distancing, hand and object hygiene and the use of masks to prevent the contamination and dissemination of COVID-19, as well as the search of these subjects for healthcare services when they need specialized care when they present a symptomatological picture of the disease, placing this group in a situation of social and health vulnerability (7) .…”

Número de casos de COVID-19 no Tocantins de 2020 a 2021 e estratégias para a redução de casos

“…Muitos homens, ainda de forma anacrônica e ultrapassada, se acham mais fortes e resistentes às doenças e acabam não tomando os cuidados necessários quando acometidos por tal. Dessa forma, essa socialização masculina embasada, muitas vezes, na virilidade potencializa os óbitos nesse gênero 18,19,20 Quanto aos casos de COVID-19 por Região de Saúde do Tocantins, Capim Dourado e Meio Norte Araguaia foram as regiões com mais casos registrados (Figura 5) Esses dados podem ser explicados pela dinâmica populacional, haja vista essas regiões terem os dois maiores números de habitantes (Capim Dourado com mais de 350 mil habitantes e Médio Norte do Araguaia com mais de 300 mil) 10,21 Além disso, o fator urbano-industrial deve ser ressaltado, uma vez que, nessas regiões, há um grande interfluxo dos três setores econômicos (primário,secundário e terciário) o que aumenta aglomerações e contato populacional 22 Já quanto aos óbitos, há uma inversão entre Capim Dourado e Meio Norte Araguaia (Figura 6). O que explica essa inversão é o fato de a região do Capim Dourado, onde está localizada a cidade Palmas, ser referência quanto à atenção de saúde (primária, secundária e terciária) e ter melhores hospitais, fato esse que acaba reduzindo a quantidade de óbitos na região, apesar de um maior número de casos confirmados 16 A região de saúde que registrou a maior incidência da doença foi o Médio Norte Araguaia com 9.225,4 a cada 100 mil habitantes, seguido pelo Capim Dourado com 8.727,76.…”