Considerando o paradoxo entre a orientação monolíngue e monocultural do currículo que norteia a educação básica de Foz do Iguaçu (Brasil), município fronteiriço, e a pluralidade linguística, social e cultural presente cenário, constitui objetivo deste artigo refletir sobre um currículo de acolhimento para o Ensino Fundamental I, que parta da realidade da comunidade e do território, respeitando as línguas, as culturas e os processos sócio-históricos diversos. Centrado na área da Linguística Aplicada Crítica (Pennycook, 2001) e tendo como ancoragem teórico-metodológica a prática etnográfica (Jung; Machado e Silva; Pires-Santos, 2019), as discussões incidiram sobre a análise documental do currículo municipal e aqueles referentes à formação inicial de professores, bem como sobre a observação realizada em sala de aula de três professoras e sobre textos produzidos por alunos. Buscando argumentar em favor de uma proposta de currículo de acolhimento, tomamos como base para as reflexões aqui propostas o letramento crítico (Jordão, 2016) e as práticas translinguajeiras (Yip; García, 2018; Lucena; Cardoso, 2018; Jaspers, 2018). Esperamos que este estudo possa contribuir para repensar os currículos educacionais que considere o contexto multilíngue e multicultural de fronteira, no sentido de propiciar uma perspectiva que reconheça o valor dos repertórios linguísticos dos alunos e dos significados culturais locais que sustentam a construção de sentidos dos seus mundos.